Sopromar, Soproyachts e Centro Náutico de Algés

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Devemos pensar o negócio em conjunto

Hugo Henriques é uma das faces mais conhecidas da Sopromar, Soproyachts e Centro Náutico de Algés. Na nossa ronda pelas principais empresas do setor Náutico procuramos saber qual a sua visão sobre a Náutica de Recreio nacional.

Náutica Press (NP) – Que balanço faz de 2012 nas múltiplas áreas onde está envolvido nomeadamente, reparação e venda de barcos.

Hugo Henriques (HH) – O Centro Náutico de Algés teve o seu primeiro ano de atividade e fizemos a manutenção a cerca de 400 embarcações. As reações dos clientes têm sido positivas e estão satisfeitos com o serviço que prestamos. Temos uma equipa, composta por 14 pessoas, a trabalhar em Lisboa e somos agentes das mais importantes marcas representadas em Portugal. No projeto CNA não temos termo de comparação com anos anteriores mas ficou dentro das nossas expectativas. Sabíamos que iria ser um ano particularmente difícil devido à crise económica em Portugal mas conseguimos atingir os objetivos.
Em relação à Sopromar, uma empresa familiar com 30 anos de história ela, é muito conhecida no estrangeiro e em Portugal. Em 2012 crescemos e não fizemos despedimentos. Claro está que tivemos que desenvolver muito mais trabalho comercial para nos adaptarmos ao mercado que está em permanente mudança. Procurámos outras áreas de negócio e mantivemo-nos atentos a todas as mudanças.

NP – As vossas instalações, em Lagos, foram ampliadas?
HH – Temos um projeto para o qual pedimos financiamento ao QREN para a requalificação das instalações e que se encontra numa fase final de aprovação pelo Turismo de Portugal. Está tudo bem encaminhado mas ainda estamos à espera da decisão final. Penso que dentro em breve iremos iniciar as obras de reconversão dos edifícios e que se traduzirão na adaptação das instalações às novas exigências do mercado. Iremos ter condições para fazermos cursos de formação, iremos melhorar as condições para os clientes que vivem a bordo dos seus barcos com alojamentos de substituição no período de tempo de execução da obra, iremos ter um restaurante e uma nova loja náutica. Esperamos que no início de 2014 esteja tudo concluído.

NP – Como está a ser a experiência em Portimão?
HH – A abertura da loja de Portimão resulta da análise que fizemos à época e em que chegámos à conclusão que era necessário abrir uma loja náutica naquele local. Nós já tínhamos uma estrutura de vendas e de comercialização o que nos permitiu ter alguma economia de escala. A existência de stock também ajudou a que o investimento não fosse muito elevado. A loja está aberta há um ano e meio e tem vindo a crescer complementarmente, aumentámos os nossos clientes na área da reparação. Em Portimão conseguimos atingir os proprietários de embarcações de grande porte pois, utilizamos a travel-lift do IPTM que tem uma capacidade de elevação de 300 toneladas. Aumentámos o nosso negócio e a nossa capacidade de resposta a todo o tipo de embarcação que normalmente visita Portugal.

NP – Foi fácil entrar em Portimão?
HH – Nunca é fácil entrar num novo mercado, temos que criar condições técnicas e de preço para atrair clientes. Importámos, de Lagos, o conceito de serviço “chave na mão” e, desta forma, libertámos o cliente da preocupação com a reparação ou serviço.
No porto, a concorrência entre operadores é benéfica para todos pois obriga a uma maior exigência por parte dos agentes económicos e cria dinâmica na região.

NP – O comércio de embarcações como correu?
HH – O ano da Soproyachts foi bom. Temos apenas três anos de existência e o seu aparecimento deveu-se também para colmatar uma necessidade que tínhamos de venda de embarcações. Devido à relação estreita que mantemos com os nossos clientes quando chegada a altura de trocarem ou comprarem novos barcos pediam-nos a nossa opinião, o nosso conselho. Não tínhamos parte ativa no negócio e, por isso, montámos a Soproyachts que tem vindo a crescer gradualmente. Neste momento representamos as marcas Williams (anexos a jet) e Sessa Marine (gama maior) que são marcas dinâmicas e com produtos de qualidade.

NP – Na Soproyachts trabalham embarcações novas e usadas. Quem são os vossos clientes?
HH – Trabalhamos mais com clientes estrangeiros do que com nacionais. Os clientes do Reino Unido são os principais mas temos alguns clientes em Portugal e negócios pontuais em Angola.

NP – Para 2013 quais são as vossas perspetivas?
HH – Hoje em dia fazer futurologia é um bocado difícil tanto ao nível empresarial como na náutica. Pensamos que esta fase mais negra da economia vai durar ainda algum tempo e que as coisas nunca mais vão ser como eram antes. Na vida temos que jogar com as cartas que nos dão! Quem melhor e mais rápido se adaptar à nova realidade irá ter mais sucesso sendo que o sucesso é uma coisa muito relativa.
Em 2013 vamos tentar manter os mesmos níveis de faturação de 2012 e, se conseguirmos manter será já uma vitória. Temos um histórico que nos permite um melhor controlo do negócio e da nossa evolução.

NP – Na sua opinião a quebra deve-se essencialmente à crise económica ou também a uma falta de interesse pela Náutica?
HH – Eu acho que é um pouco das duas coisas. A falta de dinheiro provoca a falta de interesse… as pessoas têm de aproveitar da melhor forma os seus recursos e o barco é um bem supérfluo! As preocupações, ao nível de trabalho, são tantas que se acaba por ter menos tempo para a utilização do barco…
Em Portugal fala-se muito no Mar mas faz-se pouco. Fazemos muitas conferências mas cada vez mais vivemos de costas viradas para o Mar.
Nós temos a preocupação de criar condições para trazer as pessoas para o Mar. Vai ter que se começar do zero! Teremos que começar com as escolas e os miúdos pois serão eles o futuro da Náutica.

NP – O que acha que o setor está a fazer?
HH – O setor contraiu-se um bocado e não pode encolher-se ao ponto do negócio deixar de existir! Há um ponto de cautela mas não deveremos passar para o ponto de pânico! Este ambiente é contagioso e passa de uma empresa para as outras. Temos que manter a cabeça fria e tentar, dentro do próprio setor, criar condições para melhorar o negócio para todos. A mentalidade portuguesa não ajuda muito pois pensamos um pouco só na nossa empresa e não no setor. Temos que trabalhar em conjunto e darmos o nosso melhor. Temos de unir forças para atrair pessoas para a Náutica.
Portugal também poderia ser um importante destino para o Turismo Náutico quer para os nacionais como para os estrangeiros.

NP – Noto o poder político com pouco conhecimento sobre a nossa realidade. Isto deve-se, um pouco, ao setor que não se deu a conhecer.
HH – Nós, não fazemos parte da APICAN e, neste momento, estamos a pensar aderir porque achamos que é um projeto com mérito e com pessoas credíveis. Achamos que é um princípio para mudar as coisas e tomar um novo sentido. Pensamos que tem de haver coesão no setor, pensar o negócio e desenvolver parcerias. Dou como exemplo a Marina de Lagos que criou pacotes de golfe e vela. Desta forma consegue atrair mais turistas e dar a conhecer Portugal. Quem nos diz que esse turista que, após conhecer a nossa costa e clima, não vem no futuro a viver em Portugal e comprar um barco! Temos que pensar no mercado espanhol e na nossa situação privilegiada de acesso ao Atlântico!
Temos que manter a serenidade e pensarmos o nosso negócio apesar de vivermos uma situação difícil.

NP – Falemos agora de feiras náuticas, uma área a que também estão ligados.
HH – Que fique bem claro que nós não somos uma empresa de eventos e que não é pretensão nossa sê-lo.
A Feira Náutica do Tejo nasceu com diferentes finalidades entre elas, divulgar o nosso espaço e o setor da Náutica de Recreio.
Quando lançámos a ideia tinha algumas premissas que achávamos importantes serem respeitadas: A feira tinha que ser representativa da Náutica, teria que ter ingressos livres para os visitantes e teria que ser aberta a todas as empresas do setor independentemente da sua dimensão.
Devido à nossa falta de experiência neste tipo de organização aprendemos que não se pode agradar a toda a gente no que diz respeito ao calendário. Cada área tem as suas datas preferidas e por isso determinámos que seria em Maio aproveitando também, a passagem por Lisboa da Volvo Ocean Race.
Na segunda edição as coisas vão mudar um bocadinho. Temos tudo mais pensado e mantém-se o nosso objetivo inicial de divulgação e não de lucro. Continuamos a pensar que a feira deverá englobar todas as atividades ligadas à náutica mesmo aquelas que são nossas concorrentes. Ao criar um polo de atração, as pessoas vão verificar que existe uma oferta completa na Náutica e que talvez valha apena ter barco.
Nós não podemos deixar que as pessoas se afastem do rio ou do mar pois pode ser uma situação irreversível. Esse afastamento poderá levar duas ou três gerações a recuperar! Isto é uma situação preocupante para a Náutica.
Este ano vamos ainda investir na criação de uma área para as camadas mais jovens dedicada à experimentação e ao primeiro contacto com a água.

NP – O que vão emendar em relação à edição do ano passado?
HH – No ano passado, entre o pensar no evento e a concretização foram dois meses! Este ano já temos um programa mais ou menos definido mas que não é ainda o definitivo e que começou a ser trabalhado ainda em 2012.
Como já referi vamos dedicar grande atenção aos jovens e vamos promover conferências com atletas com o intuito de transmitirem as suas experiências e, desta forma, motivarem os mais novos. Vamos promover o Show Cooking, a cozinha a bordo com alguns chefes conhecidos. Conferências mais técnicas ligadas a produtos específicos. Apresentação de novos produtos e serviços.
Isto tudo com custos mínimos para as empresas expositoras que apenas pagarão os custos de infraestrutura (segurança, tenda, etc.).
Não vamos lucrar com a Feira Náutica do Tejo!

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A redacção da Náutica Press prepara artigos e notícias do seu interesse, mantendo-o ao corrente do que se passa no universo da náutica de recreio e da náutica em geral, em Portugal e no Mundo.

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