O conceito de Salão Náutico tem vindo a evoluir na Europa e, face a esta realidade, a revista Náutica Press lançou um desafio às principais empresas náuticas portuguesas para refletirem, em conjunto, sobre este tema.
Nem todas as empresas contactadas responderam ao nosso desafio contudo, as que responderam permitem-nos ficar com uma noção de quais as necessidades e anseios do setor.
Não sendo o nosso foco a Nauticampo, que pelo segundo ano consecutivo teve fraca participação do tecido empresarial nacional, algumas das respostas abordam mais este certame.
Através das opiniões obtidas fica patente que é importante para o setor existir uma mostra de produtos náuticos. As datas para essa mesma mostra variam em função das atividades específicas de cada empresa.
As Opiniões
Grow Ibéria, António Gaspar
“A resposta é SIM, mas de 2 em 2 anos, e um salão com custos adequados à dimensão do mercado Nacional, em data adequada e acordada com a associação representante do sector”.
Grupo Angel Pilot / Stefania Balzer
“A resposta é não. Na minha opinião, o mercado português é demasiado reduzido para que as marcas internacionais decidam investir num salão náutico nacional. Por essa razão, são os importadores que têm que investir nestes salões e mesmo em casos de grandes grupos como é o caso do nosso, a capacidade de investimento e também o retorno não é suficiente para poder expor uma oferta completa das marcas que representa. Assim, o próprio consumidor já tem noção de que se quer ter acesso a uma oferta completa, deve visitar um salão internacional. A nossa estratégia tem-se centrado nos últimos anos em investir em presenças nos Salões Internacionais, que será reforçada no futuro com uma comunicação mais eficaz, para levar os clientes a viajarem na nossa companhia, para juntos podermos visitar uma oferta mais completa e encontrar o barco certo para as necessidades do nosso cliente”.
Hydrosport, Eddy Johansen
“Faz todo o sentido haver um salão náutico em Portugal.
Isto para expor a potenciais clientes uma amostra do que existe, e dar a conhecer as várias marcas existentes no mercado, concentrado num sítio só.
No entanto deve ser uma organização que reflete o poder de compra local, ou seja, com valores modestos tanto no que toca a aluguer de espaço, como valor de bilhetes de entrada.
Em termos de calendarização, como fabricante e com prazos de entrega dilatados, somos da opinião que a altura ideal é no início do Inverno, tipo Novembro. Assim obrigamos os potenciais clientes a pensar já para o próximo Verão”.
Limatla, Rui Ferreira
“É realmente uma questão pertinente.
As feiras ou salões náuticos tem interesse desde que estejam presentes grande parte das marcas e Representações e assim os possíveis interessados possam tomar uma decisão na hora.
Temos constatado que algumas mostras têm perdido o interesse, e não só em Portugal. Um exemplo claro é o salão náutico de Barcelona.
No nosso caso, a Nauticampo. Os visitantes e com toda a razão ficam muito desagradados com a qualidade e quantidade das embarcações em exposição. Pelo lado das empresas Náuticas e nomeadamente, da Limatla, não se justifica o investimento perante os resultados das últimas edições.
Um novo modelo e principalmente uma grande mobilização de todas as empresas poderão dar uma resposta à tua questão. Nos moldes atuais , Não”.
Nautiradar, António Inglês
“Sim, um Salão Náutico em Portugal fará sempre todo o sentido.
Apesar da dimensão do nosso mercado ser pequena, o nosso tecido empresarial merece ter uma feira digna e representativa do setor e se formos capazes de agregar todos os segmentos dentro da Náutica, teremos certamente uma feira com uma dimensão apreciável e devolveria algum do prestígio e glamour que antes alcançámos.
A participação num salão implica sempre um esforço considerável a nível económico, logístico etc. e nem sempre haverá novidades para apresentar, pelo que sou da opinião que se deveria realizar de 2 em 2 anos de forma a garantir um maior sucesso e os resultados que cada um se propõe alcançar. O público alvo, por sua vez, iria visitar a feira com mais vontade e interesse em conhecer as novidades etc., e assim aderir em massa.
Precisamos todos de fazer um esforço para encontrar soluções que levem à criação dum certame deste género. E a organização que leve a cabo este desafio, saiba entender a nossa realidade, estar em sintonia com os agentes económicos do setor e em conjunto desenharmos a fórmula do sucesso”.
Nautel, Nelson Lima
“A resposta é : Sim.
Porque :
1 – O mar em Portugal não é só a náutica. É a pesca profissional, frotas comerciais, Marinha de Guerra etc.
Nós, na feira, tratamos com estes clientes todos, porque não há mais nenhum evento que cubra as outras parcelas do mar, porque no final está tudo relacionado. É por isso que não temos deixado de estar na feira. É também por consideração aos outros segmentos que também têm o direito de ver as tendências tecnológicas como vê em Düsseldorf, Paris etc.
2 – Por outro lado, o conceito Náutica e Campo continua a ser uma boa combinação, pois empresas como nós estão nas duas áreas, e as mesmas também têm coisas em comum. Costuma acontecer uma pessoa ir à feira para comprar uma autocaravana e acaba a comprar um barco.
3 – Sem uma feira, onde se despertará a imaginação das crianças e adolescentes em ver barcos e sonhar um dia ter um ? Assim se garante o futuro do setor. É como querer uma equipa de futebol da 1ª liga que depois não tem infantis, iniciados, juniores etc. Seria um clube que ou gastaria muito a contratar miúdos noutro lado ou acabaria rapidamente .
Assim se pode preservar o setor e até aí atrair novos profissionais.
4 – A fraca participação do setor não tem a ver com o salão náutico, mas sim com querelas, boicotes, e razoabilidade dos custos para o expositores de barcos em que para eles o investimento é elevado não só diretamente como nas deslocações (estão quase todos fora e longe de Lisboa).
A FIL terá que adaptar o seu plano de negócios pois a oferta de conhecimento por outras vias (Internet) é forte e tem que baixar preços, popularizar o evento.
5 – Todos os países continuam com pelo menos um salão náutico. Seria mais uma machadada na reputação do país, não haver um salão náutico.
6 – O numero de visitantes que a feira tem tido, pelo menos a nós satisfaz. Cumprimos normalmente os nossos objetivos e sentimos que o público gosta do que vê, só que quereria ver mais variedade, mais stands.
7 – Portugal tem que se assumir como plataforma de negócios com países, por exemplo, africanos. Nós convidamos a virem, e assim não vão comprar a Espanha”.
Nautiser Centro Náutico / Marina Setúbal, Eugénio Martins
“Embora que algumas marcas de relevo na Europa equacionem a sua presença em alguns salões náuticos, na minha opinião em Portugal deveremos desenvolver e continuar a ter um certame que reúna as melhores condições quer para os expositores quer para o público, divulgando e dignificando a náutica de recreio nas suas mais variadas vertentes.
Bem sabemos que a FIL insistiu na realização do certame 2023, sem que tivessem reunidas as condições para que o mesmo fosse um sucesso.
A associação APICAN, reuniu com a direção de feiras sem que se chegasse a um acordo de forma a reunir as melhores condições para a elaboração de um certame que enaltecesse a náutica em Portugal.
Por parte dos expositores, estavam reunidas todas as condições e foram apresentadas propostas para que o certame Nauticampo 2023, fosse inesquecível, assim a direção de feiras da FIL não o quis e deu no que deu!!
O nosso pais necessita de um salão náutico digno e como tal deveremos trabalhar, em conjunto e no mesmo sentido, encontrando uma plataforma comum para que a realização do mesmo seja um sucesso.
Na minha opinião, os certames e as exposições são muito importantes para conhecermos e darmo-nos a conhecer ao público. A era digital pode-nos trazer uma maior aproximação do cliente à empresa, mas o contacto presencial é um fator importante no estabelecer de relações comerciais e de confiança.
Sendo as sociedades, Nautiser Centro Náutico e Marina Marbella Setúbal, responsáveis pelas representadas que detêm, é muito importante estarem alinhadas aos valores das próprias marcas, daí a importância da presença em eventos desta natureza”.
Obe & Carmen, Dora
“Na verdade fico um pouco dividida no que concerne à realização de um Salão Náutico em Portugal. Nos últimos três anos, devido aos fatores geradores de instabilidade (COVID e a guerra na Ucrânia) que influenciaram negativamente toda a logística industrial causadoras de atrasos relevantes nas entregas e na formação do preço dos produtos, não fez sentido a realização de uma Feira Náutica. Quero com isto dizer que seria muito constrangedor estar a atender o público, sem saber que prazos de entrega dar e até que preços praticar.
No entanto, se a contração económica continuar a agravar-se, o esforço em marketing e vendas terá que ser novamente ajustado e aí sim, acho que será o momento para voltar a realizar um Salão Náutico acessível a todos (expositores e visitantes) e que sirva como elemento agregador do setor na generalidade. O público nacional gosta do mar e do campo e adere bem a estes temas desde que não se sinta defraudado.”
Orey Técnica, Mário Afonso
“A minha opinião é curta e simples. O segmento mais alto dos barcos de milhão julgo que há muitos anos procura outras feiras e oportunidades no exterior, com oferta de outra dimensão e volume.
No entanto um evento em Portugal faz sentido, pelo menos para o segmento médio dos consumidores. Aqui poderão encontrar alguma da oferta existente em motores, barcos abaixo dos 12 metros, eletrónica e acessórios, sem terem que despender dinheiro em viagens e estadias a feiras lá fora. Dá sempre alguma segurança no pós-venda.
Em todos os casos terá sempre que ter pelo menos o dobro da dimensão que era disponibilizada nesta edição, sem um único veleiro nem fabricantes de motores outboard, frustrante para quem procurava variedade de oferta”.
SeaRibs / Navalport Yards, Gustavo Mateus
“Na minha opinião faz sentido, contudo acho que a data deveria ser antecipada. De uma forma geral, os fabricantes, precisam de tempo para produzir. Para isto os salões devem ocorrer entre Outubro e Dezembro, para dar tempo para fabricar/montar embarcações para serem usadas no verão. A minha sugestão é de um salão entre Outubro e Dezembro.
A promoção do salão é fraca, os preços são extremamente caros, a falta de união entre empresários é notória. Parece que ninguém se importa”.
Sea Way Grupo Siroco / Salete Novaes
“Para nós na Sea Way / Grupo Siroco não faz sentido ter um Salão Náutico em Portugal, nos “moldes” da Nauticampo onde temos assistido à diminuição de visitantes e de barcos / equipamentos em exposição.
Nas nossas marcas (Lagoon, Jeanneau, Excess e Prestige) quando está para ser lançado um novo modelo, de um modo geral, as marcas apresentam um “prototipo” aos distribuidores e divulgam nas redes sociais. Por isso, quando chegam os salões o impacto no publico é bem menor.
As marcas também começaram a criar outras estratégias de apresentação dos novos modelos em colaboração com os distribuidores, criando dias de visitas privadas ao estaleiro e as apresentações dinâmicas nas principais marinas europeias começaram a ser mais frequentes.
A “juntar” a estas iniciativas das marcas, a Sea Way / Grupo Siroco criou eventos próprios nomeadamente Private Days, Regatas e Meetings com clientes, em Lisboa, Cascais e Porto.
Pensamos que a marca Nauticampo deveria ser renovada com criação de novas estratégias, para eventualmente justificar o investimento e despertar o interesse por parte das empresas do setor náutico e consequentemente dos visitantes.
A náutica em Portugal segue de boa saúde e o nosso maior inimigo não é a guerra, é a falta de marinas para incentivar mais clientes a terem barcos, afinal não nos podemos esquecer que somos um país de navegadores e que Portugal possui uma grande margem de crescimento neste setor”.
Touron Portugal, Carlos Costa Santos
“A grande questão do mercado náutico português não é se deve ou não existir uma feira náutica, mas sim que tipo de certame se enquadra melhor no nosso mercado.
Já antes da pandemia, algumas feiras internacionais estavam a perder vitalidade, dada a forte concorrência existente. A pandemia, que trouxe uma clara alteração dos mercados, dos hábitos de consumo e nos negócios, veio acentuar uma escolha selectiva dos certames por parte dos grandes fabricantes. Claramente não existe, actualmente, espaço no mercado europeu para mais um salão, de início de época, de apresentação de produto. Nem tampouco parece verossímil que Portugal se conseguisse impor nesse contexto.
Por outro lado, o consumidor português que quer assistir aos grandes eventos de lançamento e apresentação de novidades desloca-se às feiras internacionais onde as marcas apostam. O mercado português, per si, não justifica, nem os expositores tirariam daí grande proveito, uma feira “local” de início de época para apresentação de produto.
A Nauticampo, na sua criação, soube ler muito bem as características do nosso mercado e afirmou-se como uma feira de venda ao público.
Mas o mercado mudou, o consumidor mudou. A época alta do negócio náutico, por força dessa alteração, deslocou-se.
Infelizmente, a FIL teima em não se adaptar às novas tendências do mercado e, qual D. Quixote, continua a batalhar querendo, pelo contrário, que o mercado se vergue à sua realidade. Resultado, o declínio completo da Nauticampo e a inexistência, na prática, duma feira náutica condigna em Portugal.
Sem dúvida que o mercado português necessita duma feira náutica digna desse nome. Uma feira que se enquadre nas tendências actuais, que seja atractiva para os expositores e, não menos importante, um evento que cative os consumidores. Tal certame terá de realizar-se em Março/Abril, um pouco à semelhança da BTL que, tendo alguns drivers em comum com a náutica, não é por acaso que há muito se fixou naquele intervalo temporal.
Continuamos a acreditar que a Nauticampo poderá ter futuro, desde que a FIL saiba adaptar a feira às novas características do mercado, não apenas nas datas, mas, também, no estilo de organização, de animação, com mais luz e sol, cobrindo todos os sectores da náutica, apostando num evento diferente e menos “conservador” e, sobretudo, assegurar que as expectativas dos visitantes não são goradas.
Mas, a existência duma feira também depende, e muito, dos players náuticos. Os negócios já não se fazem da mesma maneira. Na conjuntura actual, é exigido a todos um esforço de programação das compras (ou da produção), apostando em stock, planeando a época náutica antecipadamente. A postura passiva de “navegar à vista” não tem futuro. Só existirá uma feira forte com empresas fortes.
A aposta numa feira náutica nacional (e internacional) terá de ser de todos. Isso só é possível através dum trabalho conjunto entre o promotor e o sector. Para tal, a náutica necessita urgentemente duma verdadeira associação empresarial que represente todos e que trabalhe em prol e pelo sector.
Em suma, o mercado português precisa duma feira náutica. Mas, não basta dizer que se quer uma feira, é preciso que todos trabalhem para esse objectivo comum. Ainda acreditamos que a Nauticampo pode ser essa feira, mas não fechamos a porta a alternativas”.
Yacht Works, Lourenço Saldanha da Gama
“Em nossa opinião faz todo o sentido continuar a existir um Salão Náutico em Portugal, pois tradicionalmente é a melhor forma das empresas apresentarem os seus produtos. No entanto consideramos que a continuar a existir terá sempre de ser um evento condigno com a dimensão do nosso mercado e não se pode dissociar das tendências mais actuais sejam elas redes sociais, visitas virtuais, experiências…
Seria uma pena deixarmos perder esta tradição anual que sempre serviu como impulsionador do mercado náutico, no entanto estamos convictos que sem o apoio dos fabricantes será muito difícil voltarmos a ter um salão com o nível e a dimensão do passado”.