Rolex Fastnet Race: Prémio para a perserverância

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33656_0_1_photo_RFR15_MAP_v3A 46ª. Edição da Rolex Fastnet Race merece ser recordada. Edição de aniversário, reuniu uma frota recorde de 356 barcos na linha de largada; ofereceu um leque de condições meteorológicas que puseram à prova a capacidade tática, marinheira, a determinação e, em certas ocasiões, a paciência; foi ganha por esses heróis anónimos do desporto da vela, um homem que foi somando regatas com uma descrição própria do mais puro espírito amador. A vitória de Géry Trentesaux e sua tripulação a bordo do 35 pés (10,7 m) “Courier du Léon” demonstra uma vez mais a grandeza desta prova, que põe em confronto no mesmo terreno de jogo as mais credenciadas tripulações profissionais com grupos de amigos a bordo de barcos de recreio e, em que a palavra “favorito” não tem sentido.
A 46ª Rolex Fastnet Race estava destinada a ser especial. 2015 marca o 90 aniversário da sua primeira edição, celebrada em 1925 e, o seu organizador, o Royal Ocean Racing Club (RORC), cumpria 90 anos desde da sua fundação, poucos dias depois de finalizada a primeira Rolex Fastnet Race. Esta regata bienal é o símbolo e principal objetivo do clube inglês – fomentar as regatas de longa distância…

Rolex Fastnet Race 2015Saída em câmara lenta
Provavelmente, esta edição não será recordada como uma autêntica clássica. A meteorologia não brindou com condições favoráveis para incrementar o mito. Para começar, houve pouco vento. Quando a brisa chegou, fê-lo acompanhada de chuva e neblina. O que resultou mais num desafio pela sua exigência tática que pela sua dureza. O primeiro par de dias ofereceu brisas relativamente suaves e com sol, para logo converter-se numa tradicional bolina até Fastnet e uma poupa de regresso a linha de chegada em Plymouth.
Liderando a frota, embora não competindo para a Rolex Fastnet Race, o maxi trimarã “Spindrift 2” largou com a expectativa de subjugar seus adversários que, na sua maioria apenas alcançavam metade do seu comprimento de 131 pés (40 m). Apenas o “Pince de Bretagne” (80 pés / 24,4 m) ousou ameaçar o colosso suíço, especialmente quando rondaram as Scillis no troço final. Co-comandado por Dona Bertarelli e Yann Guichard, o “Spindrift 2” foi o primeiro a cruzar a linha de meta depois de 2 dias, 10 horas, 57 minutos e 41 segundos, mais de um dia sobre o seu próprio recorde estabelecido em 2011.

"COMANCHE", USA

“COMANCHE”, USA

Luta de gigantes
Na frota de monocascos, a luta pela vitória em tempo real parecia ser inevitável entre os três fortíssimos aspirantes: o 100 pés (30,5 m) norte-americano “Comanche” de Jim Clark e Kristy Hinze Clark – lançado em 2014 e considerado o maxi más rápido da atualidade, o veterano e pesado 100 pés britânico “Leopard” que ganhou a regata e estabeleceu um recorde em 2007 e, o mais pequeno e novo 88 pés (26,8 m) norte-americano “Rambler 88” de George David.
O “Comanche” necessita de vento para mostrar todo o seu potencial. Face à falta de pressão nas primeiras horas da competição, a tripulação comandada por Ken Read apenas pôde destacar-se do “Ramble 88”. O colosso de Jim Clark ganhava a prova cruzando a linha de chegada após 2 dias, 15 horas, 42 minutos e 26 segundos, apenas com quatro horas e meia de vantagem sobre o seu compatriota. “Sinceramente, foi uma das regatas mais estranhas em que participei; paragens e recomeços; barcos que tinhas deixado para trás e que em pouco tempo te passavam. Foi fenomenal”, confessou Ken Read em Plymouth.
George David, armador do “Rambler 88”, ficou muito satisfeito com o rendimento do seu novo barco, “…Foi uma regata de brisas ligeira. Terminar tão perto do “Comanche” é algo de extraordinário”.

"J-T'AIME", GBR 6709, Proprietário / Skipper: Christopher Palmer, Design: J/109, Class: IRC 3

“J-T’AIME”, GBR 6709, Proprietário / Skipper: Christopher Palmer, Design: J/109, Class: IRC 3

Incerteza até final
Conhecido o vencedor em tempo real, faltava desvendar a identidade do vencedor em tempo corrigido, o vencedor absoluto da Rolex Fastnet Race.. A batalha pelo título foi grande. Por momentos, pareceu que a ausência de vento iria beneficiar o barcos com maior comprimento, com mastros maiores e maiores superfícies vélicas permitiriam aproveitar melhor a pouca pressão existente.
O “Mono” de Dieter Schoen fez uma magnífica regata. Concedida uma vantagem irrefutável do maior tamanho, tecnologia avançada e quilhas pivotantes dos seus adversários que se situavam na frente da regata, o Maxi 72 logrou cruzar a linha de chegada na quarta posição. Entretanto, uma brisa aumenta de intensidade na zona de Fastnet e acabaria por estabilizar no resto do percurso, renovando as esperanças dos barcos mais pequenos, muitos dos quais não tinham alcançado “a rocha” quando o “Mono” tocava terra em Plymouth.
A largada do JPK 10.80 “Courier du Léon” foi tudo menos prometedora. Numa regata com pouco vento, uma largada antecipada e perder 40 minutos a emendar o erro parecia ser fatal. Mas Géry Trentesaux não perdeu o controlo. Junto com a sua tripulação, o veterano skipper francês de 56 anos puxou da sua experiência e garra para recompor-se, aproveitando a mínima oportunidade para recuperar terreno aos seus adversários
Trentesaux afrontou a sua décima terceira Rolex Fastnet Race com uma tripulação de seis membros dos quais, cinco navegam juntos desde 1999. “A Fastnet é uma regata de resistência como as 24 Horas de Le Mans: Não importa como começas, sim como acabas”, salientou o francês. “Este ano não havia a previsão de muito vento e, na largada, não tivemos mesmo nada! Tínhamos que encontrar o vento, posicionar-nos bem e não desaproveitar nada”.
“Fiz a minha primeira Fastnet em 1977 e foi realmente lenta. Ía a bordo de Nicholson 51 e necessitámos de sete dias para completar a regata. Repeti em 1979” recorda Trentesaux pouco depois de saber que tinha sido declarado vencedor. “Quando era jovem, a Fastnet era a maior e mais autêntica regata do mundo. As coisas mudaram muito ao longo de 40 anos pelo que esta será uma grande recordação. É incrível ganhar esta mítica regata!”.

"Courrier du Léon"

“Courrier du Léon”

Vitória espanhola na Class 40
O Class 40 “Tales II” de Gonzalo Botín foi a única equipa espanhola, entre as 356 de 25 nacionalidades, que largou de Cowes no domingo, 16 de agosto. Competiu na frota de 22 monotipos Class 40 (de 40 pés ou 12,2 m de comprimento), a divisão mais numerosa no IRC.
A regata do “Tales II” (segundo em 2013) foi uma prova de menos e mais. “Na terça-feira pela manhã acreditávamos que não tínhamos opções, tivemos bastante sorte”, reconheceu Botín. “Sabemos que não somos fortes com pouco vento, assim o nosso objetivo era mantermo-nos perto da restante frota para tentar recuperar quando entrasse vento”. O barco rondou o rochedo de Fastnet com dois dias e meio de regata na terceira posição, a apenas 15 e 25 segundos do líder da classe. Um percurso final impecável permitiu ao “Tales II” superar os seus rivais e cruzar em primeiro a linha de chegada em Plymouth. “Por momentos navegámos a 15-18 nós, uma das melhores navegações oceânicas que recordo, excelente”, referiu o armador. Foi uma vitória com 3 dias, 9 horas, 17 minutos e 22 segundos de esforço, quase 20 minutos menos que o seu mais direto perseguidor, o britânico “Concise 8” de Tony Lawson.
A Rolex Fastnet Race 2015, com 600 milhas náuticas, confirmou a sua reputação como uma referência entre as regatas oceânicas mundiais.Rolex Fasnet Race 2015

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