Fonte: Observatório Astronómico de Lisboa
Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa
Com o auxílio do Telescópio Espacial Hubble foi obtida uma imagem de um dos objectos mais pequenos alguma vez visto em torno de uma estrela normal para além do Sol. Com cerca de 12 vezes a massa de Júpiter, este objecto é suficientemente pequeno para ser um planeta mas também suficientemente grande para ser uma anã castanha, uma estrela falhada.A descoberta deste pequeno objecto, cuja estrela anfitriã é uma anã vermelha designada por CHRX 73, veio relembrar uma questão sobre a qual não existe consenso entre os astrónomos: o que define um planeta em torno de uma estrela que não o Sol – embora tenha sido criada recentemente uma definição de planeta para os objectos no Sistema Solar.
O responsável pela equipa internacional de astrónomos que descobriu o pequeno objecto, designado de CHRX 73 B, acredita que este seja uma anã castanha.
Fig. 1 |
Com o auxílio de novos telescópios, são descobertos cada vez maior número de objectos de pequenas dimensões, com massas planetárias, o que leva os astrónomos a perguntarem se os objectos de massa planetária em torno de outra estrela serão sempre planetas.
Alguns astrónomos sugerem que a massa de um objecto extra-solar determina a sua natureza – se é um planeta ou não. No entanto, alguns astrónomos acreditam que um objecto só é um planeta se tiver sido formado a partir do disco de poeira e gás que geralmente se encontra em torno de uma estrela recém-nascida. Este é o caso dos planetas do Sistema Solar, formados há 4,6 mil milhões de anos.
Em contraste com os planetas, as anãs castanhas formam-se como as estrelas, a partir do colapso gravitacional de grandes nuvens de hidrogénio. Ao contrário das estrelas, as anãs castanhas não possuem massa suficiente para dar início às reacções de fusão do hidrogénio nos seus núcleos.
O CHXR 73 B encontra-se a 31.2 mil milhões de quilómetros da sua estrela anfitriã, que possui aproximadamente dois milhões de anos – muito nova comparada com o Sol, que tem 4,6 mil milhões de anos. O objecto encontra-se tão distante da estrela que é pouco provável que se tenha formado num disco em torno desta. Para estrelas de pouca massa, como é o caso da CHXR 73, os discos possuem entre 8 e 16 mil milhões de quilómetros de diâmetro. À distância a que o objecto se encontra da estrela, não existe material suficiente para formar um planeta. Os modelos teóricos mostram que planetas gigantes como Júpiter são formados a distâncias não maiores que 5 mil milhões de quilómetros das suas estrelas.
Fig. 2 |
Desde que as anãs castanhas foram descobertas, há cerca de uma década atrás, que os astrónomos tem vindo a descobrir centenas destes objectos na nossa galáxia. A maioria destes não se encontra em órbita de uma estrela, mas sim a flutuar pelo espaço. O estudo de objectos sub-estelares em órbita de outras estrelas, permite-nos determinar a idade e massa destes objectos.
Estes estudos ajudam-nos a melhorar a nossa compreensão acerca da formação e estrutura interna das anãs castanhas e dos planetas.
Uma das formas de se esclarecer a dúvida que permanece acerca da natureza do objecto descoberto, seria observar um disco de poeira em torno do mesmo.
Tal como as estrelas, as anãs castanhas possuem discos em torno delas, com um diâmetro máximo de 4 mil milhões de quilómetros.
O Telescópio Espacial Spitzer detectou discos em torno de várias anãs castanhas a vaguear pelo espaço, mas o CHRX 73 B encontra-se demasiado próximo da sua estrela para o Spitzer conseguir detectar algum disco. A esperança para se confirmar se realmente existe um disco em torno do CHRX 73 B reside no Telescópio Espacial James Webb que combinará a sensibilidade no infravermelho do Spitzer com a visão aguçada do Hubble.