O que significou isso na altura? Na altura, significou que a tecnologia dos EUA era mais avançada do que a tecnologia Soviética, uma vez que foi a bandeira dos EUA a ser colocada na Lua.
Mas, hoje em dia, penso que podemos avaliar este acontecimento com uma perspectiva totalmente diferente. O facto de ter sido uma bandeira dos EUA a ser colocada na Lua deixou de ser o mais importante. Considero que o mais importante e aquilo que será lembrado durante mais tempo é o facto de os astronautas terem descoberto o planeta Terra; viram a Terra como algo semelhante a uma pequena bola de golfe a flutuar no Universo. Os astronautas tiverem a oportunidade de trazer consigo para a Terra a noção de que o nosso futuro é global e de que temos de pensar no futuro da Terra globalmente e não individualmente. Isto é o que significa hoje, ou seja, é muito diferente do que significava há 40 anos.
Será que o Homem voltará à Lua? Em caso afirmativo, quando e com que objectivos?
Sim, tenho a certeza de que o Homem voltará à Lua. A Lua fica apenas a três dias da Terra, e três dias era o que demorava para ir de Paris a Marselha há pouco mais de cem anos, por isso, não vejo por que não devemos voltar à Lua. No entanto, o objectivo já não será colocar uma bandeira na Lua. A ideia será utilizar a Lua como outro elemento do nosso ambiente, no sentido de alcançar progressos científicos ou estabelecer um sistema de aviso contra asteróides ou outros factores que ameacem a Terra, ou como fonte de recursos a trazer para a Terra. Penso que a Lua é simplesmente uma parte do nosso ambiente, por isso, tenho a certeza de que o Homem voltará à Lua; mas, a ida à Lua decorrerá em conjunto, não no contexto de dois países em competição.
Será que a Europa voltará à Lua, quando e com que objectivos?
Penso que a Europa terá um papel a desempenhar na exploração internacional da Lua; mas com que objectivos ainda não sabemos. Essa é uma escolha a fazer ao nível político, não ao nível da Agência. Porque o que se passa é que, actualmente, a Europa depende de terceiros para ir à Lua com astronautas. Uma vez que estamos dependentes, não podemos tomar iniciativas. Apenas podemos contribuir para um programa de exploração liderado pelos EUA. A Europa pode, certamente, contribuir com tecnologias interessantes em áreas em que diria que somos os melhores do mundo, mas não estaria envolvida em qualquer tomada de iniciativas. Assim, este é o primeiro cenário: uma contribuição europeia para um programa de exploração liderado pelos EUA.
Existe um segundo cenário, que consiste no facto de a Europa criar capacidades para tomar iniciativas. No entanto, este é um cenário muito diferente, uma vez que antes de mais nada, seria necessário desenvolver novas capacidades, especialmente um sistema de transporte de tripulação. Este cenário exigiria uma decisão política de alto nível, bem como um debate político acerca da posição da Europa relativamente ao programa de exploração lunar.
Quando? Na minha opinião, isso depende sobretudo do actual plano dos EUA. Por enquanto, o plano dos EUA consiste em colocar uma tripulação na Lua até 2020. No entanto, diria que a data não é o factor mais importante. Já não estamos a falar de uma corrida, ou seja, temos tempo. Se não for em 2020, será em 2025, isso não é realmente o mais importante. Daqui a cem anos, ninguém se preocupará com o facto de se ter voltado à Lua em 2020 ou em 2025, é por isso que na ESA damos prioridade à ciência e à prestação de serviços aos cidadãos a curto prazo. Contudo, estou absolutamente convencido de que o Homem voltará à Lua, daqui a 10 anos ou talvez daqui a 20 anos, mas isso não é o ponto fulcral.
Mas, num contexto em que é difícil obter fundos, porquê gastá-los na Lua?
Por diversos motivos. Em primeiro lugar, porque o futuro da Terra a longo prazo não pode ser considerado sem ter em conta o nosso ambiente, sendo que a Lua e Marte fazem parte do nosso ambiente. Assim, o primeiro motivo consiste em prepararmo-nos a longo prazo.
O segundo motivo consiste em desenvolver tecnologias inovadoras; para ir à Lua, temos de desenvolver várias tecnologias que ainda não estão disponíveis, por exemplo, a reciclagem de recursos. Não podemos levar para a Lua todos os litros de água, todos os litros de oxigénio e todos os quilogramas de alimentos de que os astronautas necessitariam para permanecer lá. Isto significa que teremos de reciclar os recursos na Lua o máximo possível para produzir água e oxigénio e para promover o crescimento de plantas. Este tipo de tecnologia, em que estamos a trabalhar neste momento e que é necessário para manter uma base lunar, terá muitas consequências em termos da forma como utilizamos os recursos na Terra.
O terceiro motivo consiste no seguinte: temos de proporcionar às gerações mais jovens projectos aliciantes para nos certificarmos de que atraímos os melhores talentos para as áreas da ciência e da engenharia. Infelizmente, nos países mais desenvolvidos, os jovens mais talentosos demonstram falta de interesse por estas áreas, mas estou convencido que este tipo de projecto pode ajudar a atraí-los para a ciência e para a engenharia.
Onde é estava Jean-Jacques Dordain Director-Geral da ESA, há quarenta anos quando o Homem chegou à Lua e o que pensou na altura?
Lembro-me perfeitamente onde estava, passei a noite em frente à televisão. Lembro-me também de terminar a minha licenciatura em engenharia ao meio-dia de 20 de Julho. A partir dessa data, tornei-me engenheiro e, para comemorar, fui de férias. Nessa noite, estava numa pequena vila do Sul de França a ver televisão. Na altura, tudo parecia um sonho, uma proeza tecnológica, por isso, não tenho a certeza se consegui avaliar todas as implicações daquilo a que estava a assistir.
Penso que apenas apreciei o evento, mas não retirei dele grandes ensinamentos. Mas, o curioso é que me tornei um engenheiro capaz de trabalhar na área espacial, área em que ainda permaneço, no espaço!