A Nautiser/Centronautico, em Palmela, é uma das mais prestigiadas e antigas empresas a operar em Portugal no sector da náutica de recreio. Já passou por diversas composições de sócios mas, nos últimos anos tem sido Eugénio Martins o homem do leme.
Náutica press (NP) O que é hoje a Nautiser/Centronautico?
Eugénio Martins (EM) A Nautiser/Centronautico é, hoje em dia, uma empresa de renome a nível nacional, é uma empresa que está sustentada principalmente no pós-venda e tem uma cobertura comercial de nível nacional. Ao contrário da prática de há 7 a 8 anos atrás, em que a empresa funcionava como um centro comercial de barcos, hoje está redimensionada e temos duas importantes marcas e referências nos seus respectivos segmentos de mercado: Cobalt e Jeanneau.
Outra área de negócio em que a empresa é muito forte é na venda de embarcações usadas onde a rotação de unidades é muito grande. Tanto comercializamos modelos resultantes de retomas como vamos ao mercado comprar com o intuito de voltar a vender.
Estamos também bem suportados na área técnica através de oficina nas nossas instalações, e também prestamos serviços em qualquer ponto do país. Ainda no campo dos serviços temos, durante os fins-de-semana e na zona de Setúbal, um barco oficina que presta assistência e que, desta forma, transmite mais segurança aos nossos clientes e a todos que necessitarem de apoio.
Temos também um serviço de recolha para barcos por nós vendidos e também para os restantes proprietários de barcos.
NP Tem uma noção de qual o volume de facturação que representam estas diferentes áreas de negócio?
EM Em 2009 facturámos 4 600 000 Euros. A venda de usados representa cerca de 55% do nosso valor de facturação, a venda de novos está na segunda posição e finalmente temos os serviços.
NP Com tanta oferta no mercado como é que o cliente chega à empresa? É através das vossas iniciativas?
EM As iniciativas são importantes bem como a publicidade mas, o principal é mesmo o passar a palavra. Eu costumo dizer, a brincar, que tenho muita gente a trabalhar para mim e, grande parte, são os meus antigos clientes. É frequente, clientes ligarem-me a dizer que estão com amigos que querem comprar barcos e que aconselharam a minha empresa. Esta situação reflecte a satisfação do cliente e demonstra a confiança que transmitimos e o nosso posicionamento no mercado.
Hoje em dia, temos que estar com serenidade no mercado e transmitir confiança ao cliente pois, não é somente pelo desconto que conseguimos conquistar os clientes
NP Quantas pessoas trabalham na empresa?
EM Ao todo somos 19 pessoas entre área técnica e comercial.
NP A localização em Palmela é estratégica?
EM Palmela é um local ideal para o desenvolvimento da actividade pois não somos uma empresa que vende exclusivamente para a região de Setúbal. A nossa cobertura é nacional e a gestão das distâncias faz-se com organização e logística. Estamos também bem servidos ao nível da rede viária que nos permite chegar com facilidade a qualquer ponto do país.
Para aquele cliente que quer experimentar o barco antes de o comprar, conseguimos em cerca de 15 minutos colocar o barco na água, em Setúbal.
NP Regulamento da Náutica de Recreio e a actividade empresarial. Como é a relação?
EM Estamos a falar duma área complicada! O actual regulamento não tem beneficiado em nada a Náutica de Recreio e não vejo, a curto prazo, que a situação se altere. Independentemente de Portugal ter as leis que tem, não temos condições de acesso à água devido à falta de marinas e docas.
Por exemplo, aqui em Setúbal é grande o empenho das autoridades portuárias em colocar um ou mais navios por dia no Porto de Setúbal. Óptimo mas, têm-se esquecido da Náutica de Recreio. Não foram desenvolvidas infra-estruturas de apoio à actividade. Por outro lado temos ecologistas a dizer que os barcos de recreio são os responsáveis pelo desaparecimento dos golfinhos! Temos ainda pessoas que estiveram em posições de destaque ao nível da administração e que hoje têm negócios de barcos de passeio e que querem impedir que a náutica tenha acesso a determinados locais para ficarem sozinhos a desenvolver o seu negócio.
Por fim temos uma administração central que não tem pessoas que percebam desta área de negócio e, tudo isto, não ajuda ao desenvolvimento da Náutica de Recreio!
NP E ao nível do regulamento propriamente dito?
EM Por exemplo as vistorias. Eu sou a favor porque estamos a falar de segurança e de um serviço que prestamos ao cliente. O que eu não estou de acordo é que essas vistorias na água sejam feitas a barcos novos. Isto não existe!!! Não existe porque não há nenhum barco que saia da fábrica sem que tenha certificado CE e, ao ter esta certificação indica que o barco foi testado e que tem as melhores condições de navegabilidade. Alguém que vistorie o barco para conferir que a palamenta corresponde ao registo, ainda aceito mas para isso não é necessário colocar o barco na água. Nós somos muito prejudicados nesta área quer financeiramente quer através do tempo que perdemos com estas manobras.
NP E em relação às cartas?
EM Os limites de potência prejudicam o negócio e essa é uma lei que não entendo. Qual o motivo porque uma pessoa com 30 a 35 anos de idade, com família e responsabilidades que se queira iniciar na náutica esteja limitado a uma potência de 60 Cv? Se um indivíduo com 18 anos pode tripular uma moto de água com 150 Cv! Estamos a falar de uma embarcação mais perigosa, com menos segurança e capacidade de manobra
Quando falaram da hipótese de alterar limite de 60 para 80 Cv, penso que é uma situação para rir
Em relação às potências o limite deveria de ser os 175Kw.
Sou da opinião que as pessoas devam ter uma formação para estarem habilitadas para conduzir uma embarcação. As escolas deveriam transmitir mais conhecimento aos seus formandos.
NP Na sua opinião como é que o sector faz chegar as suas reclamações/opiniões ao Estado?
EM O sector não faz chegar, infelizmente. Temos um sector muito dividido, o negócio é pequeno e sem grande rotação e, as principais empresas não se entendem entre si e não pensam no negócio em conjunto.
Não é só um problema de legislação
Necessitamos de uma associação que nos represente, formada por pessoas que entendam do negócio e dirigida por uma pessoa que não tenha uma empresa ligada ao sector. Quem tem estado na APICAN tem feito o melhor possível mas, isto é como no futebol, os resultados é que contam