Imagine um modelo do Sistema Solar, feito à escala, e com algumas luas com mais água, no seu interior, do que a que encontramos na Terra, as de Júpiter, por exemplo. Explorar, no futuro, as Luas de Júpiter é o objetivo de uma missão da Agência Espacial Europeia (ESA) chamada JUICE.
Na mitologia clássica Júpiter era visto como um Deus, filho de Saturno e Reia. Cientificamente, ele é o maior corpo celeste do Sistema Solar e tem tudo para ser “o” rei do nosso sistema planetário. Júpiter é onze vezes maior do que a Terra, mas é composto, principalmente, de gás, como o Sol.
A missão JUICE, da ESA, pretende explorar, de forma mais abrangente, este planeta gigante e, em particular, as suas luas, que esconderão, hipoteticamente, áreas habitáveis sob as suas crostas de gelo:
“Júpiter é um planeta gasoso, o que significa que se nos imaginarmos a entrar na atmosfera de Júpiter não encontraremos, como nos planetas terrestres, uma superfície sólida, mas um líquido mais espesso e mais grosso, não há oceanos à superfície”, explica Pierre Drossart, responsável pelo laboratório de estudos espaciais do Observatório de Paris.
O que é intrigante, para os astrónomos, é a especificidade do sistema de satélites de Júpiter e os vastos oceanos de água líquida que existirão debaixo da superfície de algumas das suas luas:
“Júpiter é, por si só, um verdadeiro sistema planetário com muitos satélites, mas sobretudo quatro satélites que foram descobertos por Galileu há pouco mais de quatro séculos. Os seus satélites são, eles próprios, mundos separados, cada um com uma geologia diferente. A missão JUICE irá estudar, pelo menos, os três mais distante”, adianta Drossart.
Júpiter e os seus satélites poderiam assemelhar-se ao Sistema Solar, numa outra escala, se Júpiter fosse uma estrela como o Sol:
“Dizemos que Júpiter é uma estrela falhada porque está entre a Terra e as estrelas. Júpiter não tem massa suficiente para desencadear as reações termo-nucleares que dão a uma estrela a sua energia, tem hidrogénio mas as temperaturas não são suficientes para emitir radiações como uma estrela”, refere Drossart.
De acordo com, Olivier Witasse, cientista do projeto JUICE compreender Júpiter, os seus satélites e a sua história permitir-nos-á entender como se formam ou evoluem os planetas gigantes de gás e os seus satélites.
“Júpiter é, realmente o planeta dos superlativos. É o maior planeta do sistema solar, a maior tempestade do Sistema Solar, o maior sistema de luas depois de Saturno, o maior campo magnético”, explica Olivier Witasse, cientista do projeto JUICE.
Durante três anos e meio de missão, JUICE vai viajar à volta do planeta gigante, estudar a sua atmosfera e três dos seus quatro satélites do tamanho de planetas: Ganimedes, Europa e Calisto.
“Se encontrarmos oceanos nas luas de Júpiter seremos capazes de estudar se há ambientes habitáveis, ou seja, onde possa criar-se vida”, refere Witasse.
Para chegar aqui será necessário viajar através do Sistema Solar durante quase oito anos e, primeiro que tudo, abandonar em segurança a gravidade terrestre. Esse é um momento mais arriscado numa missão espacial, como relata o cientista do projeto JUICE:
“Para mim, a fase de lançamento é a mais crítica, deve confiar-se no lançador que deverá lançar-nos, fugir à gravidade terrestre e enviar-nos numa boa trajetória. No final da missão estaremos em órbita, pela primeira vez, em torno de uma das luas de Júpiter chamada Ganimedes, a maior lua, e, de forma idêntica, orbitaremos em torno de uma lua que é algo crítica. É preciso ligar os motores no momento certo, conseguir um bom desemprenho, essa sera´outra fase crítica.”
O satélite ‘JUICE’ fará vários voos sobre três das quatro principais luas de Júpiter, para tentar descobrir segredos escondidos no seu interior e que poderão ser cruciais para verificar o seu potencial de habilidade:
“Europa e Ganimedes são muito bons exemplos da possibilidade de existir água no estado líquido por baixo da superfície. A única coisa que precisamos descobrir é a que profundidade podemos encontrá-la, em relação à superfície, qual é a sua extensão e se existe vida, organismos originários desta água líquida, dentro dos oceanos subterrâneos, nestas luas geladas”, explica Athena Coustanis, responsável pela investigação do CNRS – Centro Nacional de Investigação Científica.
‘Juice’ vai passar grande parte da missão a orbitar em torno de Ganimedes, que é um dos três únicos corpos sólidos do sistema solar com um campo magnético, os outros são Mercúrio e a Terra.
“Ganimedes tem o campo magnético e é o maior satélite. Se ele possuir também água, em estado líquido, debaixo da sua superfície, é o lugar ideal, no sistema solar, para além do nosso planeta, para procurar condições de vida, condições de habitabilidade”, adianta Coustanis.
Preparar uma missão espacial exige anos de trabalho e paciência, também para lidar com os limites da tecnologia, a atual estará, completamente, ultrapassada quando a sonda espacial começar a enviar os primeiros dados. É como se passado e futuro coexistissem:
“As missões são quase o projeto de uma vida, considerando que duram tanto tempo, por isso transmitimos-lhes toda a energia e, ao mesmo tempo, temos de ser pacientes porque os dados vão chegar daqui a muito tempo, 15, 20 ou 25 anos, em algumas missões”, conclui Witase, o cientista do projeto JUICE.
“Ao estudarmos Júpiter acedemos a mecanismos de física que desempenham também um papel noutros sistemas planetários. Esperamos entender melhor os planetas extrasolares ao estudarmos, mais de perto, o planeta Júpiter”, diz Drossart, responsável pelo laboratório de estudos do espaço do Observatório de Paris.
“Cada missão espacial que fazemos produz dados para serem estudados por diferentes gerações de astrónomos, como eu própria fiz. E eu espero que, daqui a algumas décadas, uma série de jovens queira trabalhar os dados do “JUICE”, conclui Athena Coustanis. Fonte: ESA