Missão concluída: A viagem da Rosetta termina com uma ousada descida ao cometa

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Última imagem da Rosetta. Copyright ESA/Rosetta/MPS for OSIRIS Team MPS/UPD/LAM/IAA/SSO/INTA/UPM/DASP/IDA

Última imagem da Rosetta. Copyright ESA/Rosetta/MPS for OSIRIS Team MPS/UPD/LAM/IAA/SSO/INTA/UPM/DASP/IDA

A histórica missão Rosetta da ESA concluiu como planeado, com um impacto controlado sobre o cometa que estava a investigar há mais de dois anos.
A confirmação do fim da missão chegou ao centro de controlo da ESA em Darmstadt, Alemanha, às 11:19 GMT (13:19 CEST) com a perda do sinal da Rosetta no momento do impacto.

A Rosetta realizou a sua manobra final, no dia 29 de Setembro, à noite às 20:50 GMT (22:50 CEST), definindo a sua rota de colisão com o cometa a uma altitude de cerca de 19 km. A Rosetta tinha como alvo uma região no pequeno lobo do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, perto de uma região de fossos ativos na região de Ma’at.
A descida deu à Rosetta a oportunidade de estudar o gás, a poeira e o ambiente de plasma do cometa muito perto da sua superfície, bem como obter várias imagens de alta resolução.
Os fossos são de particular interesse porque desempenham um papel importante na atividade do cometa. Fornecem também uma janela única para os seus blocos de construção internos.
As informações coletadas na descida para esta fascinante região foram devolvidas à Terra antes do impacto. Agora já não é possível comunicar com a sonda espacial.
A Rosetta entrou mais uma vez para os livros de história”, diz Johann-Dietrich Wörner, Diretor Geral da ESA. “Hoje celebramos o sucesso de uma missão inédita, que superou todos os nossos sonhos e expectativas, e que continua o legado da ESA de ‘primeiros’ em cometas.
Graças a um enorme esforço internacional de longas décadas, conseguimos, com a nossa missão, levar um laboratório de ciência de classe mundial para um cometa para estudar a sua evolução ao longo do tempo, algo que nenhuma outra missão a um cometa se aventurou a fazer”, observa Álvaro Giménez , Diretor de Ciência da ESA.
A Rosetta já estava em papel mesmo antes da primeira missão de espaço profundo da ESA, Giotto, ter obtido a primeira imagem de um núcleo de um cometa, quando passou ao lado de Halley em 1986.
A missão atravessou carreiras inteiras, e os dados obtidos irão manter ocupadas gerações de cientistas por décadas vindouras.
Além de ser um triunfo científico e técnico, a incrível viagem da Rosetta e do seu módulo de aterragem Philae também capturou a imaginação do mundo, envolvendo novas audiências muito além da comunidade científica. Foi emocionante ter toda a gente a bordo”, acrescenta Mark McCaughrean, conselheiro científico sénior da ESA.
Desde o seu lançamento em 2004, a Rosetta está agora na sua sexta órbita em torno do Sol. A sua viagem de quase 8 milhões de quilómetros incluiu três voos rasantes à Terra e um a Marte, e dois encontros com asteroides.
A sonda passou 31 meses em hibernação no espaço profundo na parte mais distante da sua viagem, antes de acordar em Janeiro de 2014 e, finalmente, chegar ao cometa em Agosto de 2014.
Depois de se tornar a primeira sonda espacial a orbitar um cometa, e a primeira a utilizar um módulo de aterragem, Philae, em Novembro de 2014, a Rosetta continuou a acompanhar a evolução do cometa durante a sua abordagem mais próximo do Sol e mais além.
Operámos no ambiente inóspito do cometa durante 786 dias, fizemos uma série de sobrevoos dramáticos perto da sua superfície, sobrevivemos a várias explosões inesperadas do cometa, e recuperámos de dois ‘modos de segurança’ da sonda espacial”, diz o gerente de operações Sylvain Lodiot.
As operações nesta fase final desafiaram-nos mais do que nunca, mas é um final apropriado para a incrível aventura da Rosetta ao seguir o seu módulo de aterragem até o cometa.
A decisão de terminar a missão na superfície é o resultado da Rosetta e do cometa saírem novamente para além da órbita de Júpiter. Mais longe do Sol do que alguma vez viajou a Rosetta, haveria pouca energia para a sonda funcionar.
Os operadores da missão foram também confrontados com um período de um mês de duração iminente quando o Sol está perto da linha-de-visão entre a Terra e a Rosetta, ou seja, a comunicação com a sonda ter-se-ia tornado cada vez mais difícil.
Com a decisão de levar a Rosetta para a superfície do cometa, impulsionámos o retorno científico da missão com esta última e única operação”, diz o gerente da missão Patrick Martin.
É um final agridoce, mas no final a mecânica do sistema solar estava simplesmente contra nós: o destino de Rosetta foi criado há muito tempo. Mas as suas excelentes proezas permanecerão agora para a posteridade e serão utilizadas pela próxima geração de jovens cientistas e engenheiros em todo o mundo”.

Atividade do cometa de 31 de Janeiro de 2015 a 25 de Março de 2015. Copyright ESA/Rosetta/NAVCAM – CC BY-SA IGO 3.0

Atividade do cometa de 31 de Janeiro de 2015 a 25 de Março de 2015. Copyright ESA/Rosetta/NAVCAM – CC BY-SA IGO 3.0

Apesar do lado operacional da missão ter sido concluído hoje, a análise científica vai continuar por muitos anos vindouros.
Muitas descobertas surpreendentes já foram feitas durante a missão, não menos importante, a curiosa forma do cometa que se tornou evidente durante a aproximação da Rosetta em Julho e Agosto de 2014. Os cientistas acreditam agora que os dois lobos do cometa se formaram de forma independente, juntando-se numa colisão a baixa velocidade nos primeiros dias do Sistema Solar.
A monitorização a longo prazo também mostrou o quão importante é a forma do cometa ao influenciar as suas estações, ao mover a poeira por toda a sua superfície, e para explicar as variações medidas na densidade e composição do coma, a ‘atmosfera’ do cometa.
Alguns dos resultados mais inesperados e importantes estão relacionados com os gases que fluem de núcleo do cometa, incluindo a descoberta do oxigénio molecular e azoto, e a água com um ‘sabor’ diferente ao dos oceanos da Terra.
Juntos, esses resultados apontam para que o cometa tenha nascido numa região muito fria da nebulosa protoplanetária, quando o Sistema Solar ainda se estava a formar, há mais de 4,5 mil milhões de anos atrás.
Embora pareça que o impacto de cometas como o da Rosetta possa não ter entregado muita da água Terrestre como se pensava anteriormente, uma outra questão muito esperado era se eles poderiam ter trazido ingredientes considerados fundamentais para a origem da vida.
A Rosetta não dececionou ao detetar o aminoácido glicina, que é comumente encontrado em proteínas e fósforo, um componente chave do ADN e membranas celulares. Numerosos compostos orgânicos foram também detetados pela Rosetta a partir da sua órbita, e também por Philae in situ à superfície.
No geral, os resultados obtidos pela Rosetta, até agora, retratam os cometas como sobras antigas da formação inicial do Sistema Solar, em vez de fragmentos de colisões mais tardias entre corpos maiores, dando uma visão sem precedentes sobre o que os blocos de construção dos planetas podem ter sido há 4,6 mil milhões de anos atrás.
Assim como a ‘Rosetta Stone’, após a qual esta missão foi nomeada, foi fundamental para compreender a linguagem antiga e a história, o vasto tesouro de dados da sonda espacial Rosetta está a mudar a nossa visão sobre a forma como os cometas e o Sistema Solar se formaram”, diz o cientista do projeto Matt Taylor.
Inevitavelmente, agora temos novos mistérios para resolver. O cometa não desvendou ainda todos os seus segredos, e há com certeza muitas surpresas escondidas neste incrível arquivo. Então, não vá a lugar nenhum – nós estamos apenas a começar”.

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