Depois de sete dias (o equivalente a 1.600 horas) de intensa navegação – e muitas manobras nos últimos dois dias de rota no Atlântico Norte –, a tripulação do veleiro VOR70 Mirpuri Foundation, liderada pelo skipper português Paulo Mirpuri, alcançou o porto de Barbados nas primeiras horas da manhã de Domingo (05.2.2017).
“Esta minha estreia numa travessia oceânica ensinou-me muita coisa, especialmente a importância do espírito e união da tripulação a bordo e também como o oceano nos mostra a necessidade de sermos pacientes. Agora sei exatamente como selecionar os velejadores portugueses para a futura equipa Mirpuri Foundation na Volvo Ocean Race 2020 e vou participar pessoalmente no processo de seleção das equipas masculina e feminina que pretendemos formar, para então decidirmos qual será a tripulação final.”, adiantou Paulo Mirpuri confirmando assim a organização do primeiro projeto inteiramente português na Volvo Ocean Race 2020.
Assente em valores muito caros à Mirpuri Foundation – coragem, ética, espírito de equipa, inovação, tecnologia e profissionalismo –, o skipper Paulo Mirpuri confirmou assim que esta primeira travessia oceânica serviu como base de lançamento do projeto para a participação de uma tripulação portuguesa na Volvo Ocean Race 2020, cujos velejadores selecionados serão os embaixadores da Mirpuri Foundation, levando aos quatro cantos do mundo a sua mensagem «for a better world».
«Estarmos a bordo de um veleiro de alta competição – pequeno e frágil se comparado com a vastidão do oceano – ajudou-nos a consciencializar que é mesmo possível concretizar o nosso sonho de lutar e tornar este mundo melhor para as gerações futuras.», lembrou ainda Paulo Mirpuri ressaltando a importância que este projeto tem no âmbito do Programa Save the Ocean, lançado recentemente pela Mirpuri Foundation.
“A nossa tripulação embora profissional não tinha ainda velejado junta anteriormente, mas o espírito de equipa surgiu logo e juntos conseguimos enfrentar situações complexas de manobras do veleiro, especialmente quando os ventos sopravam com força de 40 nós e as vagas mantinham-se a 8 metros de altura por dois dias seguidos.”, contou Paulo Mirpuri.
Uma rota acelerada e complexa
Os dois últimos dias de percurso foram mais complexos devido à instabilidade dos ventos alísios e à agitação do mar – efeito do mau tempo que assolou a Europa nos últimos dias. A equipa teve de se desdobrar em manobras (cambadelas) para ajustar o rumo direto para Barbados, equilibrando a variação da força e direção dos ventos e o estado do mar.
“Os primeiros dias de navegação desde a largada em Cabo Verde foram muito exigentes para a equipa pois enfrentamos ventos de quase 40 nós e mar alteroso e todos a bordo desempenharam muito bem as suas funções. Isto permitiu-nos também explorar a performance do veleiro VOR 70 que chegou a registar 500 milhas navegadas em 24 horas e atingiu picos de velocidade acima de 30 nós.”, detalhou o skipper português ao desembarcar em Shallow Draft, única área portuária em Bridgetown, capital de Barbados, com capacidade para receber o veleiro VOR70 que tem 21 metros de comprimento e calado de 4,5 metros, devido à quilha pivotante equipada com bulbo.
Os únicos incidentes técnicos a bordo do veleiro Mirpuri Foundation foram uma vela de proa rasgada logo no primeiro dia de navegação – que o skipper confessou ter sido causada pela exigência da equipa em incrementar a performance do barco – e a quebra de uma régua da vela grande há dois dias da meta. Alguns tripulantes apresentaram ligeiras queixas de saúde – como queimaduras e uma infeção na unha – e o skipper Paulo Mirpuri, sendo também médico, tratou destes assuntos eficientemente.
Bem dispostos e sem sinais de cansaço, a tripulação desembarcou em Shallow Draft para os habituais procedimentos alfandegários, sem mostrar vestígio do duro trabalho de navegação nos últimos dois dias, com vagas constantes de 8 metros de altura e ventos instáveis entre 12 e 16 nós.
Enrico Civello, gestor da tripulação, afirmou que esta travessia oceânica serviu de lição a todos. “Tivemos vento forte e muito mar, o que proporcionou uma experiência emocionante para os convidados a bordo. A viagem foi boa, a potência do barco é evidente e navegámos sempre em segurança. Estivemos tão bem posicionados nos ventos alísios que percorremos 1.200 milhas no mesmo bordo (o que representa mais da metade da rota de 2.100 milhas desde Cabo Verde a Barbados).
“O veleiro VOR 70 é muito sensível, capaz de acelerar ou desacelerar ao menor ajuste das velas, patilhões de deriva e precisão no leme. A organização dos turnos de trabalho no convés funcionou muito bem, com 6 horas de trabalho durante o dia e 4 horas durante a noite, com a tripulação dividida em dois grupos.”