Marés de Titã apontam para um oceano escondido

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Por dentro de Titã / Credits: Angelo Tavani

Nunca tinha sido visto nada semelhante for a do nosso planeta: foram encontradas grandes marés na lua de Saturno Titã, que apontam para um oceano líquido – muito provavelmente água – aos turbilhões por baixo da superfície.

As marés de Titã levantadas por Saturno / Credits: NASA/JPL

Na Terra, estamos habituados ao efeito gravitacional combinado da Lua e do Sol, que cria duas vezes por dia a subida e descida das marés nos nossos oceanos. Menos óbvias são as marés de algumas dezenas de centímetros na crosta do nosso planeta e manto subjacente, que flutua num núcleo líquido.
Mas agora, a missão internacional Cassini, a Saturno, descobriu que na superfície de Titã há grandes marés.
«A existência de marés tão pronunciadas implica que haja uma camada altamente deformável dentro de Titã, muito provavelmente água, capaz de distorcer a superfície de Titã em mais de 10 metros,» diz Luciano Iess, da Università La Sapienza, em Roma, principal autor do artigo publicado na revista Science.
Se esta lua fosse completamente rígida, esperaríamos detetar marés de apenas um metro.
As marés foram descobertas através da monitorização cuidada da viagem da Cassini, durante as seis passagens que a sonda fez pela maior lua de Saturno, entre 2006 e 2011.
Titã orbita Saturno numa trajetória elíptica a cada 16 dias, mudando de forma de acordo com a variação na interação com a atração gravitacional a que está sujeita – no ponto mais próximo, estica até à forma de uma bola de rugby.
A atração gravitacional de Titã na Cassini e a alteração da forma da lua afetam a sua trajetória de forma ligeiramente diferente, a cada visita, o que se revela em pequenas diferenças na frequência dos sinais de rádio recebidos pela nave e enviados para a Terra.
“Sabemos, a partir de outros instrumentos da Cassini, que a superfície de Titã é feita de água gelada coberta por uma camada de moléculas orgânicas – o oceano de água também pode adulterado por outros ingredientes, que incluem amónia, ou sulfato de amónia,” sublinha Iess.
“Apesar de as nossas medições nada dizerem sobre a profundidade do oceano, os modelos sugerem que pode ter até 250 km de profundidade debaixo de uma cobertura de gelo de 50 km de espessura.”
Isto também ajudará a explicar a razão de Titã ter tanto metano na sua atmosfera, o que dado a sua natural vida curta pressupõe que de certo modo esteja a ser reabastecido.
“Nós sabemos que os reservatórios de metano nos lagos hidrocarbonados à superfície de Titã não são suficientes para explicar as grandes quantidades na atmosfera, mas um oceano poderia funcionar como um reservatório em profundidade,” explica Iess.
“Esta é a primeira vez que a Cassini mostra a presença de um oceano por baixo da superfície de Titã, fornecendo importantes pistas acerca da forma como funciona Titã, ao mesmo tempo que aponta para outro local no Sistema Solar em que a água líquida seja abundante,” diz Nicolas Altobelli, cientista de projeto da Cassini para a ESA.

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