FRANCISCO LOBATO: VITÓRIA NO TROFÉU SALAZAR (100 milhas entre Cascais-Berlengas-Lisboa)

0


Copyright © Náutica Press

Francisco Lobato, o único velejador português a conquistar a qualificação para a Transat 6,50, regata oceânica em navegação solitária que em 2007 vai ligar França ao Brasil, continua a sua preparação para o grande desafio. Nos próximos meses o velejador vai participar em diversas regatas em águas portuguesas e continuará a preparar o seu barco BPI mas também regressa às aulas de engenharia no Técnico. A grande novidade é a possibilidade de a Transat 6,50 que ligará La Rochelle a São Salvador da Baía passar pela Ilha da Madeira, como alternativa às Canárias. Uma escala que muito representaria para Lobato e para a vela nacional.


Lobato continua a somar excelentes resultados. Depois do segundo lugar na famosa Regata Les Sables – Açores – Les Sables, e do quarto posto no Troféu Almada, o atleta venceu a regata do Troféu Salazar, uma prova com 50 anos de história entre Cascais-Berlengas e Lisboa no total de 100 milhas.

Lobato conta: «Nos primeiros tempos os barcos presentes à largada tinham tripulações completas mas desde há alguns anos que é realizada a dois tripulantes. O BPI não faltou a mais uma grande edição e às 19h25 largámos em frente à Marina de Cascais. O vento estava médio/fraco de Sul/Sw e a largada foi bastante renhida pois todos os barcos cortaram a linha quase ao mesmo tempo. Depois de rondarmos a bóia da ponta Este do molhe sul da marina e passados alguns minutos à bolina virámos de bordo em direcção ao Cabo Raso e Cabo da Roca.»

Adianta: «Nesta altura estávamos já em último porque o BPI só tem 6,50 metros e contra o vento anda muito menos que os outros barcos presentes à largada. Mal o ângulo de vento abriu ligeiramente içámos o geenaker, o barco disparou e começámos a recuperar lugares. Ao passarmos o Cabo Raso o barco que liderava a frota era o Açor/Lusitânia Seguros que fez uma excelente largada e por esta altura já levava o spi em cima. Logo de seguida içámos o spi e começámos a voar… aproximadamente em frente ao cabo passámos para primeiro lugar. O vento começou a aumentar para 15 nós sempre de Sul/Sw com vaga de Oeste de 2 a 3 metros o que implicava uma grande concentração da nossa parte para conseguir manter o spi sempre cheio devido às variações de vento provocadas pela vaga. Ao passar em frente à Praia Grande já levámos algum avanço, o vento continuou a subir e o BPI planava cada vez mais rápido…»


A aventura no Troféu Salazar continuou: «Entretanto vieram algumas nuvens bem pretas que trouxeram chuva e vento forte a atingir os 25 nós. Condições perfeitas (só as de vento!!) para o barco porque íamos a planar a 12 nós constantes com pontas de 14. Deixámos de ver as luzes de navegação dos outros barcos que com o passar do tempo foram ficando para trás. Quando o vento baixava a nossa velocidade média caía para os dez nós o que mesmo assim é bastante elevada. Chuvadas fortes, mar cruzado foram ingredientes que fizeram com que a minha tripulante (Marta minha irmã!) assim como outros velejadores de outros barcos tivessem alguma má disposição. Para mim foi bastante curioso participar nesta regata com o BPI porque lembro-me de há um ano participar nela com o Melga (Pogo 1 – barco com que treinei durante um ano) apanhámos uma bolina enorme, fiquei quase em último, enjoei…. Notei uma enorme diferença na minha prestação depois de uma época intensiva em França. Estou muito mais à vontade no mar, até mais consciente do perigo que são estas regatas. Por exemplo este ano estava constantemente amarrado e éramos dois a bordo enquanto que há dois anos estava sozinho e devo-me ter amarrado poucas vezes.»

Berlengas à vista: «Rapidamente nos aproximámos da Berlenga. A dez milhas arriámos o spi, cambámos e içámos o geenaker. Ao chegar ao broeiro enrolámos o geenaker e cambámos novamente para nos afastarmos um pouco mais apesar de pela minha navegação passarmos à justa mas não é nesta regata que vale a pena arriscar um projecto inteiro. Pelas duas e meia da manhã estávamos a passar em frente ao Serro da Velha( Berlenga) e começámos a bolina em direcção ao Cabo da Roca. Passámos junto ao Cabo Carvoeiro (Peniche) onde passou por nós uma frente fortíssima com vento muito forte e uma chuvada muito intensa. Apesar de estar lua nova e portanto a noite estar muito escura, o céu estava constantemente a ser iluminado por raios o que no mar faz sempre algum medo, respeito… como lhe quiserem chamar», adianta Francisco.
«Depois desta frente passar o vento rodou para SW/W e conseguimos ir à bolina num bordo directo até 20 milhas do Cabo da Roca. Durante estas milhas o mar estava cheio de pescadores e é de notar a excelente linguagem utilizada por estes no VHF. Numa frase com cinco palavras três são asneiras. Ao nascer do dia continuávamos sem ver outros concorrentes e a hipótese de ganharmos a regata começou a ser uma realidade. Fizemos alguns bordos até ao Cabo da Roca, a seguir ao Cabo Raso içámos o spi e cortámos a linha de chegada em Oitavos (aproximadamente entre o Cabo Raso e Cascais). Ao cortar a linha confirmámos com a Comissão de Regata que éramos os primeiros em tempo real. Passado algum tempo tivemos a confirmação da vitória em tempo corrigido porque o “Barcavelha” que ficou em segundo lugar vinha mais atrasado – apesar de ser um barco mais pequeno o BPI tem um rating superior e consequentemente temos de lhe “dar algum tempo”.

Resumindo: “Foi uma regata intensa e dura, uma vitória, um sprint do início ao fim, 16 horas para ir à Berlenga e voltar num barco de seis metros e meio!»

QUEM É FRANCISCO LOBATO…
Com alguns meses fez a sua primeira viagem marítima até Gibraltar com o seu Pai e Avô, velejadores de boas águas, desde aí não parou de navegar. Fez viagens ao longo da Costa Atlântica e no mar Mediterrâneo, nomeadamente até à Madeira, Norte de África, Baleares e Costa Espanhola.
Aos sete anos entrou na escola de vela da Associação Naval de Lisboa e iniciou-se na classe Optimist.
Aos onze foi pela primeira vez a um Campeonato do Mundo. Foi várias vezes campeão nacional em diferentes classes, já participou em mais de 15 Campeonatos do Mundo e da Europa, foi medalha de bronze no Campeonato Europeu de Laser (classe Olímpica) e medalha de ouro no Campeonato Centro-Sul-Americano Sub 21.
Esteve integrado no projecto de esperanças Olímpicas e na equipa pré-olímpica para Atenas 2004.
Em 2005 participou em várias regatas em solitário, fez cerca de 2000 milhas em navegação solitária e venceu a etapa rainha (a mais comprida) da Volta a Portugal “Lisboa – Algarve” contra embarcações com mais do dobro do tamanho e com tripulações de 10 pessoas.
Este ano conseguiu o segundo lugar na mítica Regata Les Sables – Açores – Les Sables, tendo deslumbrado toda a Comunicação Social Francesa da especialidade.
É estudante do 3.º ano de Engenharia Naval no Instituto Superior Técnico e vai participar na Transat 6,50 em 2007.

www.franciscolobato.com

Partilhe

Acerca do Autor

A redacção da Náutica Press prepara artigos e notícias do seu interesse, mantendo-o ao corrente do que se passa no universo da náutica de recreio e da náutica em geral, em Portugal e no Mundo.

Deixe Resposta