Nestas nossas andanças pelos portos fluviais do estuário do Tejo, locais onde as embarcações tradicionais do Tejo pontificaram, visitámos a Moita.
Apesar das embarcações tradicionais que se encontram no cais da Moita é difícil imaginar, para um visitante, qual foi a real dimensão/importância desta povoação até sensivelmente aos anos cinquenta do século XX. A falta de informação (painéis, por exemplo) e referências arquitetónicas relativas aos tempos passados é uma realidade. Para quem chega pela água, ao ritmo das marés, o impacto da entrada no canal, ao nível da beleza natural, é grande mas, ao nível das infra-estruturas de acolhimento são praticamente inexistentes. Esta situação enfraquece a capacidade de acolhimento da região e, não ajuda o desenvolvimento da economia local. Chegados a terra não existe qualquer tipo de informação que nos leve a conhecer a história da região e locais/edifícios que foram outrora emblemáticos na importante relação da Moita com o estuário do rio Tejo. Felizmente, começa a aparecer uma nova geração de pessoas preocupadas com o património e com as tradições como é o caso do projeto Tejo ConVida. Esta nova geração não nega as suas origens e vê, nas tradições, uma forma de desenvolvimento da região do ponto de vista turístico e económico.
Cais da Moita
O Cais da Moita desempenhou, ao longo de séculos, um papel de grande relevância. O movimento fluvial de e para Lisboa, com mercadorias ou com passageiros, atribuiu a este ancoradouro uma grande importância económica e social. Durante séculos, o Cais foi o coração da vila da Moita. Toda a vida gravitava em seu torno. Era a grande porta para o exterior.
Aqui chegavam viajantes, carroças e carretas de bois carregadas de produtos, a fim de tomarem a carreira do barco para a cidade de Lisboa. Devido a toda essa movimentação diária de passageiros e mercadorias, cujo aumento se verificou a partir do século XVII, o cais transformou-se num verdadeiro posto de trabalho, onde um grande número de homens desempenhavam as tarefas de carregadores, vivendo das necessidades dos carregamentos que cada maré permitia efetuar.
Fonte: Retrato em Movimento do Concelho da Moita, Câmara Municipal da Moita, 2004
Embarcações Tradicionais
Ligada a uma tradição de transportes entre as duas margens do Tejo, a atividade naval faz com que no território da Moita (tal como em toda a zona do Estuário do Tejo) se desenvolvessem embarcações que, pelo seu tamanho e características, respondessem às necessidades exigidas.
Assim, entre os barcos que nesta área tiveram mais desenvolvimento destacam-se os botes, as faluas, os varinos e as fragatas. Destes barcos possui a Câmara Municipal da Moita um exemplar; um varino “O Boa Viagem”. A recuperação desta embarcação tradicional entre 1980 e 1981, no estaleiro naval do mestre José Lopes, teve a Câmara Municipal da Moita como pioneira, seguida posteriormente por outras autarquias.
Entre os anos de 2010 e 2011, “O Boa Viagem” foi de novo submetido a uma grande intervenção que envolveu a própria estrutura da embarcação, no estaleiro naval de Sarilhos Pequenos. Ao longo deste processo de recuperação foram utilizadas as ancestrais técnicas de carpintaria naval, calafeto, tratamento e pinturas das madeiras.
O varino é uma embarcação de fundo chato, para navegar nos esteiros do rio, com águas de pouca profundidade. Exibe uma proa redonda, encimada pelo caneco ou capelo também aduncadamente recurvo para dentro. Ostenta as características pinturas decorativas no painel da proa, na antepara e nos barbados, conferindo-lhe um colorido inconfundível. Tem cerca de vinte metros de comprimento por cinco de largura, podendo transportar até duzentas toneladas.
Numa perspetiva de valorização deste património, “O Boa Viagem” foi classificado como um bem cultural de interesse municipal, em Reunião de Câmara de 11 de Setembro de 2011.
Fonte: Retrato em Movimento do Concelho da Moita, Câmara Municipal da Moita, 2004
Estaleiro Naval do Gaio
O estaleiro foi construído de raiz no início do século XX e, pelo pai de Mestre Lopes, constituindo-se numa verdadeira escola de profissionais da arte naval. No Estaleiro Naval do Gaio foi construída a última embarcação tradicional do Tejo, o bote de meia quilha “Sejas Feliz” e, no início da década de oitenta, foram recuperadas as primeiras embarcações com funções de lazer, entre as quais se destaca o varino “O Boa Viagem” da Câmara Municipal da Moita.
Nos tempos áureos, em que o estaleiro estava em grande atividade, trabalhava aqui um grande número de profissionais da arte de construção naval, como carpinteiros, serradores e calafates.
O estaleiro do Gaio constitui um valioso legado patrimonial, não só pelo conjunto de saberes técnicos tradicionais, como também por toda a herança material (instrumentos e utensílios de trabalho) de que ainda dispõe e que é de grande importância para o estudo da arquitetura naval e para o entendimento da história local.
Fonte: Retrato em Movimento do Concelho da Moita, Câmara Municipal da Moita, 2004
Estaleiro Naval de Sarilhos Pequenos
O Estaleiro de Sarilhos Pequenos foi comprado pelo seu atual proprietário, o Mestre Jaime Ferreira da Costa, no ano de 1957, numa época em que a construção naval era uma atividade florescente. Com o declínio do transporte fluvial, o estaleiro deixou de estar vocacionado para a construção de embarcações tradicionais do Tejo e a sua atividade passou a incidir na recuperação e manutenção de diferentes tipos de barcos de recreio, entre os quais se destacam os das Câmaras Municipais.
Fonte: Retrato em Movimento do Concelho da Moita, Câmara Municipal da Moita, 2004
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