ENTREVISTA: Luís Quinta

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A propósito dos Açores…

O lançamento de mais um livro dedicado aos nossos mares e suas belezas naturais fomos conversar com o seu autor, Luís Quinta.
Luís Quinta é um dos nossos melhores fotógrafos de vida selvagem aquática e de superfície e que tem, a meu ver, como principais características o rigor, o método e um profundo sentido estético.

Quando pensamos nos Açores, a imagem que nos vem à memória é a dos grandes cetáceos. Porquê uma tartaruga na capa?
Luís Quinta (LQ) – Em primeiro lugar quis fugir um pouco ao ícone que hoje em dia está associado aos Açores, em segundo lugar os cetáceos debaixo de água, não têm muita cor e eu gostava de ter alguma cor na imagem de capa, além do azul do mar. A tartaruga que escolhi tem cor, expressão, é igualmente um animal muito comum nos Açores e é uma criatura “simpática” que agrada ao observador.

Quais foram imagens mais difíceis (tecnicamente e condições físicas) de obter?
LQ – Os mergulhos fundos são sempre mais exigentes, quer tecnicamente, quer fisicamente. Temos de planear vários detalhes, quer ao nível de equipamento, quer ao nível dos objectivos fotográficos. Não só temos de gerir um mergulho mais complicado, como um ambiente mais difícil. Isto é, a 50 metros, não tenho a mesma luz disponível que a 10 metros. Tenho de consultar vários instrumentos de mergulho para controlar a minha imersão. O risco é maior, posso ter de realizar paragens de descompressão para voltar à superfície. Além disto a reacção do corpo a esta profundidade e usando ar comprimido não é a mais “lúcida”.
O equipamento fotográfico trabalha de igual forma a qualquer profundidade.
O Anthia (pág. 48) foi um dos peixes que me exigiu mais mergulhos (sempre abaixo dos 30 metros) até chegar a uma imagem que me satisfizesse.
Todos os animais do “Azul” que vivem em mar aberto são sempre um desafio, não muito ao nível técnico (de fotografia), mas sim ao nível logístico. Para fotografar baleias, ou peixes oceânicos a logística é enorme e dispendiosa. Para as baleias necessito de um bom barco, com autonomia, com um Skipper experiente, de um bom vigia em terra, de um mar em condições (transparência e calmo) e de sorte.

Qual a espécie que mais prazer deu de fotografar?
LQ – Sem dúvida as baleias. Apesar do seu tamanho, estes animais são graciosos a nadar, curiosos, e proporcionam encontros (embora breves) sempre emocionantes e únicos. Não é todos os dias que se vê, debaixo de água, uma baleia com 20 metros a passar a pouco mais de 4-5 metros da minha câmara.

Tecnicamente foi difícil fotografar nas águas dos Açores?
LQ – Sim e não. Não é difícil fotografar nos Açores, a água é tipicamente transparente (no Verão), tépida e há muitos dias de mar calmo. O pior, ou o mais difícil é conseguir fotografar em toda a região dos Açores. Há locais de mergulho muito bons e que ficam a várias dezenas de milhas de terra em pleno mar aberto. Não se vai até estes locais em qualquer dia, com qualquer barco. São necessárias condições especiais, nomeadamente, um bom barco, um bom guia/barqueiro e uma boa condição física/psicológica, entre outras. Mergulhar no Banco Princesa Alice a 45 milhas Horta, com o intuito de fazer um bom trabalho fotográfico não se programa em poucas horas. Há muitas variantes que podem complicar uma viagem a este local, como por exemplo a fase da lua/maré, a força do vento, entre outros factores. Uma coisa é lá ir fazer um mergulho, outra coisa é lá ir fazer um bom mergulho fotográfico. São coisas distintas e que necessitam de uma organização dentro de água diferente: poucas pessoas, um ritmo mais calmo, etc.

Como caracteriza o Arquipélago dos Açores para a Vida Selvagem?
LQ – É um local verdadeiramente fantástico. Ao nível de vida subaquática é um local MUITO BOM. Basta ver os 10 minutos finais do episódio “Open Ocean” do Blue Planet da BBC, e penso que está tudo dito! Para mim os Açores possuem verdadeiros “diamantes” em bruto, apenas é necessário ir para o mar e trabalhar essas “pedras preciosas”. Isto é, existem tantos fenómenos, tantos animais incríveis por fotografar, filmar, observar, que o que temos de fazer é ir para o mar e tentar registar todas essas formas, comportamentos e silhuetas.

Porquê os Açores como tema deste livro?
LQ – Visito os Açores regularmente todos os anos (há mais de 12 anos) e desde cedo vi que existia um enorme potencial para as actividades subaquáticas e para a observação de vida selvagem. Depois de publicar dezenas de artigos sobre o mergulho nos Açores, reportagens sobre Whale Watching, de fotografar várias expedições científicas, de observar a vida selvagem como poucos o fizeram, achei que tinha material suficiente para concentrar tudo numa obra só e fazer um livro. Tinha ainda uma série de imagens que nunca tinha publicado, fotografias inéditas que mereciam ser divulgadas num contexto especial.

Com três livros editados está esgotado o tema Portugal?
LQ – Não! Acho que existem mais uma meia dúzia de temas e locais que podem dar óptimos livros com estas características. Certamente que é necessário trabalhar, primar pela qualidade, nem que isso leve vários anos a afinar. Não se fazem livros desta natureza numa dúzia de meses, ou um pouco mais. Entendo que os livros que nascem de trabalhos breves, pouco desenvolvidos, com imagens de menor qualidade, ou vulgares, facilmente são ultrapassados e não fazem história.

Para saber mais: www.luisquinta.net e http://lusitanicus.blogspot.com

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