CULTURA: Desvendando os segredos do pescador poveiro – A emigração para o Brasil

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Lado a lado com o mar, o Diana Bar recebeu, no passado dia 12, o lançamento de Comunidade Piscatória Poveira, um livro editado pela Câmara Municipal que reúne o trabalho de investigação de Nuno Freitas, elaborado com a colaboração de Patrícia Meleiro, desenvolvido no âmbito do trabalho final da Licenciatura de História, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em 2005.
Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura, explicou que o livro versa sobre o fluxo emigratório da comunidade poveira em 1896 para o Brasil. “Em 1892 deu-se uma grande tragédia no mar, em que morreram 105 pescadores. Tal levou a que a vida se dificultasse para a comunidade, a que se juntava a falta de segurança no Porto de Pesca da Póvoa de Varzim. Para além disso, os pescadores tinham barcos muito frágeis e sofriam com a concorrência dos barcos mais modernos, a vapor”. Tendo em conta que este foi o segundo de três livros lançados na Póvoa de Varzim em dois dias (sexta-feira e sábado), o Vereador considerou que “nunca se editou tanto, nunca se escreveu tanto e nunca se leu tanto”. Foi por isso com grande satisfação que participou no lançamento de Comunidade Piscatória Poveira, “um livro que tem a ver connosco, com a nossa comunidade, sobretudo sobre aquilo que é o nosso poveirismo – a nossa comunidade piscatória”. E apesar de Nuno Freitas ter estudado apenas o ano 1896, Luís Diamantino defendeu que este é “um ponto de partida para aquilo que ainda podemos fazer”.
O autor, madeirense, não pode estar presente no lançamento do livro, mas chegou ao Diana Bar através das novas tecnologias. Assim, e via DVD, explicou que a investigação retratou a comunidade em finais do século XIX. “O início do século foi próspero, tendo o fim do século ficado marcado pela pobreza”, facto que levou a um grande fluxo emigratório, empolgando, também, pela associação ao “mito do enriquecimento fácil” no Brasil.
Entre as conclusões da investigação, apoiada por documentos guardados no Arquivo Municipal e na Biblioteca Municipal e ainda pelos periódicos da época, Nuno Freitas concluiu que emigravam maioritariamente homens adultos, com idades entre os 30 e os 44 anos, sendo que a emigração masculina era superior à feminina. O autor aponta ainda as várias causas que levaram à emigração, a profissão de quem emigrava, o destino, de que rua eram originários, entre outros tantos elementos.
Inês Amorim, professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e ela própria uma apaixonada pelas pesquisas na área de História das Pescas, acompanhou todo este trabalho de investigação. Por isso, na sessão, apresentou alguns factos sobre o pescador poveiro, caracterizado pela sua “habilidade”, “pelo conhecimento que tinha do mar e pela sua capacidade de adaptação aos diferentes mares”. Assim, o pescador poveiro tinha uma “polivalência de facetas” que o distinguia dos demais. “Ao longo do ano é sempre pescador, quando emigra, emigra para pescar. E por isso tem um perfil diferente”.
Comunidade Piscatória Poveira provou também que, na sua emigração para o Brasil, o pescador poveiro escolhia como destino o Rio de Janeiro. Mas tal como sublinhou Inês Amorim, “o Rio de Janeiro é um destino primeiro, um plataforma que depois pode levar a outras localizações”.
Mas acima de tudo, a professora considera que este trabalho “dá voz aos pescadores, eles não sabiam ler ou escrever. Eram os outros que falavam por eles”. Trata-se, assim, de preservar uma cultura que ainda tem muito para dar a conhecer, como evidenciou Inês Amorim. “Nem o Nuno nem a Patrícia são da Póvoa, tiveram de entrar na comunidade. Isso significa que a comunidade teve algo para lhes dizer”, sublinhando ainda que esta é “uma comunidade que está em extinção, é pequena mas muito activa. Há aqui uma cultura que tem que se salvaguardar”.
E dando mostras da preocupação da autarquia poveira pela preservação do seu património, Luís Diamantino avançou que Luís Martins, antropólogo e autor de Mares Poveiros, tem vindo a desenvolver um trabalho de recolha junto da comunidade, em filme, “uma comunidade com tradições e memórias que mais nenhuma tem”. Para além disso, a própria Câmara Municipal tem apoiado o trabalho de inúmeras pessoas que se dedicam a estudar a comunidade piscatória, tendo mesmo, em dois ou três anos, lançado mais de dez livros, em edições municipais, relativos à pesca, de vários autores diferentes.

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