75 Anos de vida
Dois lugres históricos comemoram 75 anos de existência e encontram-se na Marina Parque da Nações. Uma oportunidade única para o grande público conhecer estes dois expoentes da pesca do bacalhau nas águas do Canadá.
Creoula
O “Creoula” é um lugre de quatro mastros. Construído no início de 1937 nos estaleiros da CUF para a Parceria Geral das Pescarias, o navio foi lançado à água no dia 10 de Maio e efetuou ainda nesse ano a sua primeira campanha de pesca. Um número a reter é o facto de o navio ter sido construído no tempo recorde de 62 dias úteis.
As obras-vivas a vante, com particular destaque para a roda da proa, tiveram construção reforçada uma vez que o navio iria navegar nos mares gelados da Terra Nova e Gronelândia.
Creoula
Até à sua última campanha em 1973, o navio possuía mastaréus, retrancas e caranguejas em madeira. O gurupés, conhecido como “pau da bujarrona”, que também era em madeira, deixou de existir em 1959, passando o navio a dispor apenas de duas velas de proa: giba e polaca. As velas que agora são em dacron, material sintético mais leve e mais resistente, eram na altura feitas de lona de algodão, possuindo o navio duas andainas de pano, que eram manufaturadas pelos próprios marinheiros de bordo. Cada andaina era composta por: giba, bujarrona, polaca, traquete, contra-traquete, grande e mezena, mais três estênsulas como gavetopes de entremastros, e um pendão redondo de içar no mastro do traquete. Além deste pano havia dois triângulos de tempo para envergar no mastro da mezena. O pano latino era feito com lona de algodão nº 2, o velacho (redondo) com lona de algodão nº 4 e as extênsulas com algodão nº 7, o mais resistente. As tralhas das velas eram em cabo de manila. Quanto ao aparelho fixo, esse sempre foi em aço, mas o de laborar era outrora em sizal.
Creoula
O espaço que medeia hoje entre a zona da cobertura de vante (coberta das praças) e a casa da máquina, era na época o porão do peixe e em cujos duplos fundos se fazia a aguada do navio. O navio estava assim dividido em três grandes secções por duas anteparas estanques que delimitavam, a vante e a ré, o porão do peixe. A vante do porão ficavam os alojamentos dos pescadores, o paiol de mantimentos e as câmaras frigoríficas para o isco; a ré, os alojamentos dos oficiais, a casa da máquina, os tanques do combustível, o paiol do pano e aprestos de pesca. Tinha ainda nos delgados de vante e de ré vários piques utilizados como reserva de aguada, armazenamento de óleo de fígado, carvão de pedra para o fogão e óleos lubrificantes.
Todo o interior do navio era revestido a madeira de boa qualidade e o porão calafetado para evitar o contacto da moura com o ferro.
O mastro de vante (traquete) servia de chaminé à caldeirinha e ao fogão a carvão, fogão este que se encontra no Museu Marítimo de Ílhavo.
Em 1979 o «Creoula» foi adquirido por compra à Parceria Geral de Pescarias pela Secretaria de Estado das Pescas, com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura, com a finalidade de nele ser instalado um museu de pesca.
Na primeira docagem levada a efeito, verificou-se que o seu casco se encontrava em ótimas condições, tendo então sido deliberado que o navio se manteria a navegar e seria transformado em Navio de Treino de Mar (NTM) para apoio na formação de pescadores e possibilitar a vivência de jovens com o mar. Para tal, a zona de meio navio, onde ficava o porão de peixe, foi redimensionada a aproveitada para as cobertas de instruendos, camarotes e câmara de sargentos, refeitório das praças e instruendos, casas de banho e estação tratadora de esgotos. Em 1992 o navio sofreu algumas alterações na zona de meio navio, de que se destaca o aproveitamento duma das cobertas de 9 instruendos em benefício de um espaço que funciona como biblioteca e sala de aulas.
Santa Maria Manuela
Santa Maria Manuela
O Navio de Treino de Mar Santa Maria Manuela é um navio histórico que foi lançado às águas do Tejo em 1937 e participou nas famosas campanhas de pesca do bacalhau à linha até ao início dos anos 1990s.
O Santa Maria Manuela, encomendado pela Empresa de Pesca de Viana, foi construído nos estaleiros da CUF, em Lisboa, no tempo recorde de 62 dias úteis.
Com os seus 68,64m de comprimento fora-a-fora enverga regularmente 11 velas latinas com uma área total de 1.130m2 dispondo ainda de propulsão a motor com uma potência de 746kW (1.010Cv).
O aço utilizado na construção é de elevada qualidade, uma vez que se destinava à construção de 2 navios de guerra, acabando por ser utilizado nos cascos do Santa Maria Manuela e do seu gémeo Creoula.
Durante a sua longa vida como navio de pesca o Santa Maria Manuela perdeu muitas das características típicas dos grandes veleiros do início do séc. XX e, particularmente, dos veleiros com tradição de construção portuguesa. Por desejo do armador, grande parte do processo de recuperação foi dedicado à reconstituição, em moldes actualistas, desses detalhes diferenciadores.
A recuperação deste lugre de quatro mastros foi uma iniciativa da empresa Pascoal & Filhos, S.A. que, entre 2007 e 2010, levou a cabo um longo e bem documentado processo de reconstituição do navio cujo casco se encontrava a aguardar melhores dias no Porto de Aveiro.
Novamente apto para navegar, agora como Navio de Treino de Mar, o Santa Maria Manuela não voltará a levar pescadores para os Bancos da Terra Nova e Gronelândia, representando uma aposta no mercado do turismo, onde se destaca pela inovação e exclusividade da oferta. Com capacidade para 50 Participantes ativos na vida de bordo, o Santa Maria Manuela dispõe de todas as comodidades e não tem restrições de área de navegação.
O Turismo Cultural de Vocação Marítima é o novo destino do Santa Maria Manuela. Em conjunto com os seus parceiros comerciais, promove a realização de viagens temáticas de turismo alternativo e direciona-se a apreciadores de turismo aventura em geral que procuram opções de viagens ou férias didáticas e vivenciais.
Viagens temáticas pela subordinação a um tema, seja a observação de espécies marinhas, exploração de zonas de interesse ambiental, ou a vivência de viagens de importância histórico-cultural como por exemplo a pesca do bacalhau na Terra Nova ou etapas das Descobertas.
Turismo alternativo porque pressupõe a atividade dos Participantes nas tarefas de bordo, ficando assim conhecedores da sua diversidade, designadamente a navegação à vela em grandes navios.
Santa Maria Manuela
Marina do Parque das Nações recebe Creoula e Santa Maria Manuela
A Marina do Parque das Nações recebe, de 7 a 13 de maio, as embarcações gémeas Santa Maria Manuela e Creoula, antigos Lugres Bacalhoeiros e dois dos últimos sobreviventes da Frota Branca Portuguesa (Portuguese White Fleet), que estão a comemorar 75 anos de vida.
De 7 a 13 de maio, o navio Creoula, atual navio de treinos da Marinha, e de 9 a 12 de maio, o Santa Maria Manuela, resgatado, recuperado e restituído às águas pela empresa Pascoal & Filhos, SA, estarão na Ponte Cais da Marina do Parque das Nações para serem visitados por todos os admiradores da história marítima ou simples curiosos.
Estes dois navios, lançados à água em 1937, foram construídos nos Estaleiros da CUF em Lisboa e ficaram para História da Engenharia Naval Portuguesa por terem sido construídos com uma qualidade de excelência, com aço que se destinava à construção de navios de guerra, e num tempo recorde de apenas 62 dias.
Das comemorações dos 75 anos do Santa Maria Manuela faz, ainda, parte uma viagem a bordo do histórico barco com trajeto entre Aveiro e Lisboa, ou Lisboa e Aveiro, com preços a partir de 80 euros Estas viagens estão abertas ao público, e as informações sobre inscrição e preços estão disponíveis no Site do SMM / www.santamariamanuela.pt
Informação sobre os navios foi recolhida na Marinha Portuguesa e na empresa Pascoal & Filhos, SA
Creoula
Tipo: Lugre de 4 mastros
Comprimento de fora a fora: 67,4 m
Comprimento entre perpendiculares: 52,8 m
Boca: 9,9 m
Pontal: 5,9 m
Altura dos Mastros: 36,0 m
Deslocamento leve: 894 ton.
Deslocamento máximo: 1300 ton.
Calado: 4,7 m
Aguada: 146 ton.
Combustível (gasóleo): 60 ton.
Motor principal: MTU/8 cilindros
Potência: 500 cv
Lotação: 06 Oficiais; 06 Sargentos; 26 Praças
Capacidade de embarque: 01 Diretor de Treino; 51 instruendos
Propriedade: Marinha Portuguesa / www.marinha.pt