Alerta de Catarina Eira, bióloga da UA e coordenadora do projeto LIFE+ MarPro
Áreas de conservação de cetáceos reconhecidas legalmente: é urgente a aprovação dos Planos de Gestão
Portugal Continental já tem a primeira área exclusivamente marinha dedicada à conservação de cetáceos. Situada na faixa litoral entre Maceda (Ovar) e a Praia da Vieira (Marinha Grande), a nova área da rede ecológica Natura 2000 foi aprovada em Conselho de Ministros e publicada ontem, dia 23 de janeiro, em Diário da República, a par do alargamento da área de conservação junto à costa do sudoeste alentejano. A novas áreas foram propostas pelo LIFE+ MarPro, um projeto coordenado pela Universidade de Aveiro (UA), mas por si só, sem a concretização de medidas de conservação, serão ineficazes.
Catarina Eira, bióloga da UA e coordenadora do LIFE+ MarPro, aponta que sem a aprovação da área de proteção na Costa de Setúbal, do alargamento da área no Estuário do Sado e principalmente sem a aprovação dos planos de gestão, as duas novas áreas “terão poucos efeitos na conservação do meio marinho”.
“Para se assegurar que os objetivos de conservação são compatíveis com as atividades humanas que ocorrem nestas áreas, permitindo a monitorização e mitigação das pressões identificadas, os planos de gestão têm de ser aprovados”, aponta a bióloga.
“O Sítio Maceda-Praia da Vieira engloba cerca de 32 por cento da população nacional de boto, uma espécie de cetáceo cuja população se encontra em declínio acentuado em Portugal onde tem o estatuto de vulnerável”, aponta a bióloga Catarina Eira, coordenadora do LIFE+ MarPro, que deixa o alerta: “Caso não sejam tomadas medidas de proteção eficazes, esta espécie pode extinguir-se dentro de duas décadas nas águas nacionais”.
“A aprovação do Sítio Maceda-Praia da Vieira como Sítio Natura 2000 é um passo importante para a conservação de cetáceos, embora ainda se aguarde a aprovação do Plano de Gestão do Sítio, que prevê a implementação de programas de colaboração com as frotas de pesca de modo a diminuir as taxas de captura acidental e a mortalidade de cetáceos”, alerta Catarina Eira.
Já o Sítio Costa Sudoeste passa agora a englobar uma área importante para a população de roazes, “sendo também relevante para a conectividade ecológica e funcional entre os núcleos de boto no Sítio Maceda-Praia da Vieira e as zonas mais a sul da Península Ibérica, onde se tem registado uma redução drástica do número de indivíduos”, diz a bióloga.