O estatuto global das aves marinhas deteriorou-se rapidamente ao longo das últimas décadas. Várias espécies e muitas populações estão agora perigosamente no limiar da extinção. Estas são as conclusões da revisão exaustiva publicada esta semana na revista científica de renome internacional Bird Conservation International.
A revisão – com base em dados e avaliações feitas pela BirdLife International para a Lista Vermelha da IUCN – revela que as aves marinhas são hoje em dia o grupo de aves mais ameaçado do mundo. Das 346 espécies de aves marinhas, 97 (28%) estão globalmente ameaçadas e outras 35 encontram-se muito perto de atingir o mesmo estatuto. Cerca de metade das espécies de aves marinhas apresentam um declínio populacional evidente, sendo a família dos albatrozes a que melhor evidencia estas tendências negativas, estando atualmente 17 das suas 22 espécies ameaçadas de extinção.
“As aves marinhas são um grupo diverso com distribuição mundial. Como predadores de topo, funcionam como um valioso indicador da saúde do meio marinho global, saúde essa que estará claramente em risco se as tendências não forem invertidas”, refere Iván Ramírez, coordenador do Programa Marinho Europeu da BirdLife International, da qual a SPEA é o seu representante em Portugal.
As atividades humanas estão por trás desses declínios. No mar, a pesca comercial tem degradado os stocks de peixe e causado a morte de aves marinhas através de inúmeras capturas acidentais, por outro lado em terra, a introdução de espécies invasoras tem dizimado imensas colónias reprodutoras.
Podemos ir ainda a tempo de inverter estes declínios e a publicação é clara sobre as ações que precisam ser tomadas. Os locais que são mais utilizados pelas aves quer as colónias de reprodução em terra, quer as áreas de alimentação em alto mar, devem ser protegidos. A BirdLife já identificou várias Áreas Importantes para Aves (IBAs) marinhas em terra e está prestes a publicar o primeiro inventário de IBAs marinhas oceânicas. Espera-se que esta ferramenta possa ajudar a desenvolver uma rede global de áreas marinhas protegidas e auxiliar a implementação de novas abordagens para a gestão e proteção dos sistemas
marinhos.
As espécies invasoras, especialmente de roedores introduzidos, devem ser removidos das colónias mais importantes, das quais depende a sobrevivência das aves marinhas. Já foram desenvolvidos vários trabalhos de restauração bem-sucedidos e a BirdLife está presentemente a colaborar com diversas entidades com o intuito de compilar uma lista de locais prioritários para futuras operações de erradicação. Iván Ramírez refere ainda que Portugal é um bom exemplo de como ainda é possível reverter esta situação. Um dos exemplos é a freira da madeira, que se reproduz unicamente na Ilha da Madeira, onde trabalhos de recuperação do habitat e controlo de espécies invasoras preveniram que esta espécie se extinguisse. No entanto, temos muito trabalho pela frente se quisermos tornar o caso da freira-da-madeira, um exemplo entre muitos.
Há também necessidade de prosseguir com a investigação para preencher as lacunas de conhecimento existentes, de forma a prevenir outras fontes de ameaças emergentes, tais como a aquicultura, as operações de geração de energia e as alterações climáticas.