Longe vão os tempos em que um Riva representava o que demais sofisticado se fazia no panorama náutico internacional. O conceito de ícone ou de objeto de desejo, no século XXI, é completamente diferente dos da segunda metade do século XX.
Texto: Vasco de Melo Gonçalves
A marca italiana Riva, através do seu modelo Aquarama encarnou desde do ano de 1962 e durante muitos anos, o conceito de barco desportivo e de glamour. Parte deste imaginário vem da estreita ligação com o mundo do cinema e à Côte d’Azur francesa.
Hoje em dia, a realidade é bem diferente. A Côte d’Azur deixou de ser o espaço geográfico exclusivo da alta-sociedade e dos colunáveis e, os conceitos estéticos no que diz respeito a design e decoração dos barcos, bem como o tipo de utilização, alteraram-se profundamente.
Nova estética, novos conceitos
Esta “revolução” na náutica de recreio está intimamente ligada à evolução económica mundial e ao surgimento de uma nova geração de milionários. Clientes europeus, norte-americanos, russos e, mais recentemente, chineses dominam a carteira de encomendas dos principais estaleiros mundiais.
Os barcos deixaram de ser concebidos / construídos para “navegar” e passaram a ser mais sofisticados e, em tudo, semelhantes a boas casas. Os proprietários têm a possibilidade de escolher / conceber a decoração, o layout, a motorização, a cor do seu futuro barco.
O barco passou a ser um símbolo de estatuto financeiro e uma plataforma para se fazer negócio num ambiente relaxado. Os estaleiros italianos foram os primeiros a compreender esta nova realidade e, hoje em dia, são um dos principais construtores mundiais.
Seria redutor caracterizar o perfil do nauta atual numa pessoa que gosta de ostentar e que procura apenas a sofisticação e a estética.
Nos últimos anos, temos assistido a uma procura crescente de pequenos veleiros por parte de profissionais bem-sucedidos em atividades de grande stress. São pessoas sem um grande conhecimento de navegação mas que procuram o sossego que o velejar proporciona e a tranquilidade que um fim de semana a bordo transmite. Os estaleiros, principalmente os franceses, aperceberam-se rapidamente da existência deste novo mercado e começaram a conceber modelos de veleiros extremamente simples, ao nível da manobra mas, com todas as comodidades a bordo. À facilidade de manobra dado que existem modelos que podem ser tripulados por apenas uma ou duas pessoas, juntou-se a evolução tecnológica dos sistemas de auxílio à navegação como são os casos de equipamentos de GPS com cartografia, sondas e radares. Os principais fabricantes de equipamentos introduziram, nos seus modelos, sistemas de operação intuitivos muito idênticos aos utilizados no dia-a-dia das pessoas nos seus computadores. Para facilitar ainda mais, o barco já pode ser controlado através de aplicações nos tablets e smartphones…
Não nos deixemos embalar porque, na náutica, nem tudo é calma e relaxe! Para aqueles que gostam de desportos náuticos e que procuram adrenalina no contacto com a água, velocidade e sensações fortes, o day-cruiser a motor ou a moto de água podem ser as respostas ideais. Também neste segmento, a tecnologia e a investigação estão presentes. Os principais construtores mundiais, com especial incidência nos norte-americanos, conceberam modelos de barcos com cascos com uma grande hidrodinâmica equipados com motores potentes e silenciosos e devidamente preparados para os desportos nomeadamente o Wakeboard. Estes modelos traduzem os desejos de uma geração dinâmica caracterizada pelo culto duma imagem desportiva, pelo gosto de estar com os amigos num contacto estreito com a natureza.
É nas motos de água que assistimos às maiores evoluções tecnológicas e dinâmicas. A “luta” pela liderança do setor é protagonizada pelos fabricantes americano SeaDoo e pelo japonês Yamaha. Durante anos a aposta dos fabricantes concentrou-se no incremento de potência nos seus modelos chegando alguns a ter 260 Cv! Este exagero de potência colocou problemas de segurança aos utilizadores e tornou esses modelos quase indomáveis. A Yamaha percebeu que, ao conceber modelos tão “selvagens” estava a fabricar motos de água para um número “reduzido” de utilizadores… Através de uma intensa investigação e de muito investimento inverteu a tendência e começou a apresentar modelos mais “domesticados” com forte incorporação de segurança de onde se destacam os limitadores de potência, a marcha à ré e sistemas auxiliares de manobra.