Patente de 14 a 24 de Outubro 2011, Tenda VIP do Rip Curl Pro Portugal na Praia dos Supertubos em Peniche.
Há cada vez mais pessoas a fotografar surf. Hoje em dia, quando chegamos à praia, junto à orla marítima e antes do lugar onde as ondas quebram, é comum depararmo-nos com objectivas imponentes, apontando para a água, em busca do momento certo para fixar o movimento das pranchas. Mas, se há cada vez mais pessoas a fotografar surf, nem por isso temos mais imagens capazes de reflectir o surf tal como ele de facto é.
Como sabe qualquer surfista, surfar não é apenas remar para uma massa de água, colocarmo-nos em pé numa prancha e, num difícil equilíbrio, percorrer a parede de uma onda que nos empurra para terra. Isso é a componente visível do surf. Mas é também uma parte ínfima da experiência de surfar. Há muito surf para além do surf.
É aí que as fotografias do Ricardo Bravo fazem a diferença. Não estamos apenas perante um excelente fotógrafo de surf. O mais notável no Ricardo Bravo é a capacidade de, fotografando o surf, mostrar o mundo que existe em volta do surf. Um mundo feito de esperas pacientes; de conversas suspensas à beira mar; de ondas que se revelam entre feixes de luz branca; de momentos em que ficamos suspensos entre a força do mar que, enquanto nos consome, sugere-nos uma grandeza física que nós próprios desconhecíamos; e, claro, da independência que só se encontra na solidão que experimentamos sentados na prancha, aparentemente perdidos no meio do mar. As fotografias do Ricardo Bravo são um pretexto para anunciar um segredo: o surf não se esgota no surf.
A escritora norte-americana Susan Sontag, autora de algumas das reflexões mais interessantes sobre fotografia, escreveu que a câmara fotográfica faz de cada pessoa um turista na realidade dos outros e, eventualmente, na sua própria realidade. Um bom fotógrafo é necessariamente alguém capaz de olhar para as coisas com uma visão inocente e primeira, em princípio só ao alcance de quem é estranho à realidade que fotografa. Quando olho para as fotografias do Ricardo Bravo é isso que vislumbro: um olhar primeiro, de turista, não viciado no mundo que fotografa e por isso capaz de o revelar imaculado. Este conjunto de fotografias confirma que, para além de capacidade técnica que lhe permite fotografar com mestria o surf, o Ricardo Bravo tem uma intuição que torna possível cristalizar os momentos em volta do surf com a mesma intensidade. É isso que faz dele um grande fotógrafo e, por acréscimo, um grande fotógrafo de surf. Pedro Adão e Silva
Exposição de Fotografia “Para Além do Surf” de Ricardo Bravo
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