O segundo satélite da série Earth Explorer da ESA – satélite da missão relativa à humidade do solo e à salinidade do oceano “Soil Moisture and Ocean Salinity” (SMOS) – e o segundo satélite de demonstração do projecto para autonomia a bordo “Project for Onboard Autonomy” (Proba-2) da ESA foram lançados em órbita na noite de 01 de Novembro a partir do norte da Rússia.
Fotos: ©ESA
O SMOS desempenhará um papel essencial na monitorização das alterações climáticas à escala global. Trata-se do primeiro satélite alguma vez concebido para mapear a salinidade da superfície do mar e monitorizar a humidade do solo à escala global. Este satélite possui um radiómetro interferométrico exclusivo que permite a vigilância passiva do ciclo da água entre os oceanos, a atmosfera e o solo.
Aproveitando a “boleia” do SMOS, o Proba 2 constitui uma continuação do lançamento bem sucedido do satélite Proba 1 em 2001. Serão demonstradas 17 tecnologias de satélite avançadas, como por exemplo sensores miniaturizados para as futuras sondas espaciais da ESA e uma câmara CCD altamente sofisticada com grande angular de cerca de 120º, comportando um conjunto de quatro instrumentos científicos para observar o Sol e estudar o meio plasmático em órbita.
Dois satélites em duas órbitas
Os satélites foram lançados por um veículo de lançamento Rockot da Eurockot GmbH. A descolagem do Cosmódromo de Plesetsk no norte da Rússia decorreu à 01:50 h UTC (02:50 h CET) na segunda feira, dia 2 de Novembro. Cerca de 70 minutos depois do lançamento, o SMOS separou-se com sucesso do nível superior do Rockot, Breeze-KM. Pouco depois, foi adquirida a telemetria inicial do satélite pela estação terrestre de Hartebeesthoek, perto de Joanesburgo, África do Sul. O nível superior efectuou depois manobras adicionais para chegar a uma órbita ligeiramente inferior e o Proba-2 também foi libertado, cerca de 3 horas depois do início do voo.
Ambos os satélites estão actualmente em órbita em torno da Terra, descrevendo as respectivas órbitas em sincronia com o Sol, a uma altitude de cerca de 760 km no caso do SMOS e de 725 km no caso do Proba-2. O centro de controlo de missões Proteus a cargo do Centre National dEtudes Spatiales (CNES) em Toulouse, França, controla o SMOS em nome da ESA, ao passo que o centro de controlo Proba, na estação de localização da ESA em Redu, Bélgica, assumiu o controlo do Proba-2.
As operações iniciais em órbita começaram por verificar os satélites antes de os preparar para operações. Prevê-se que o Proba-2 alcance o estado operacional no espaço de dois meses. A carga útil altamente inovadora a bordo do SMOS demorará mais tempo a verificar e calibrar, sendo que a nave espacial entrará no modo totalmente operacional no espaço de seis meses.
“Estamos extremamente satisfeitos com este “golpe de sorte” duplo, que oferecerá à Europa novas ferramentas para compreender melhor o nosso planeta e as alterações climáticas, bem como novas descobertas tecnológicas que permitirão melhorar a competitividade da indústria europeia no mercado global, contribuindo deste modo para a economia global,” afirmou Jean-Jacques Dordain, Director-Geral da ESA, testemunhando o lançamento a partir de Plesetsk.
À procura de alterações na água
O SMOS é um satélite de 658 kg desenvolvido pela ESA em cooperação com o CNES em França e o Centro para el Desarrollo Tecnológico Industrial (CDTI) em Espanha. Este satélite baseia-se na pequena plataforma de satélites Proteus concebida e construída pela Thales Alenia Space, sendo que a respectiva carga útil é composta por um único instrumento, o radiómetro Microwave Imaging Radiometer utilizando a tecnologia Aperture Synthesis (MIRAS), desenvolvido pela EADS CASA Espacio.
O MIRAS é um interferómetro que liga 69 receptores montados em três braços desdobráveis para medir a temperatura de reflexão da superfície terrestre na gama de frequências microondas. Esta temperatura está relacionada com a temperatura real da superfície e as respectivas características de condução, que por sua vez estão relacionadas com a humidade no solo para a superfície terrestre e com a salinidade da água para a superfície do mar.
Os dados recolhidos pelo SMOS complementarão as medições já realizadas no território e no mar para monitorizar as alterações na água à escala global. Uma vez que estas alterações, a maioria das quais ocorrem em áreas remotas, afectam directamente o clima, têm uma importância crucial para os meteorologistas” afirmou Volker Liebig, Director dos Programas de Observação da Terra da ESA. Para além disso, a salinidade é um dos impulsionadores da circulação termoalina, a grande rede de correntes que condiciona as trocas de calor entre oceanos à escala global, sendo que a sua análise era há muito esperada pelos climatologistas, que tentam prever os efeitos a longo prazo das alterações climáticas,” acrescentou Liebig, testemunhando o lançamento a partir do Cosmódromo de Plesetsk.
O SMOS é o segundo satélite lançado no âmbito do programa Earth Explorer conduzido pela ESA para promover a aquisição de novos dados ambientais para a comunidade científica. Este satélite segue-se ao Gravity and steady-state Ocean Circulation Explorer (GOCE), também lançado por um Rockot, em Março de 2009. Já se encontram em preparação mais exploradores da Terra. O Cryosat-2, que medirá a espessura das placas de gelo, deverá estar pronto para lançamento em Fevereiro de 2010. Este será seguido pelo ADM-Aeolus, que estudará a dinâmica atmosférica, e pela missão Swarm que monitorizará o enfraquecimento do campo magnético da Terra, em 2011, bem como a missão EarthCARE relacionada com as nuvens e os aerossóis em 2013.
Tecnologias para o amanhã
Com uma massa de lançamento de 135 kg, o Proba 2 é um satélite muito mais pequeno, “mas, à semelhança do seu antecessor Proba 1, destina-se a demonstrar uma ampla variedade de tecnologias, tanto para futuros sistemas de satélite como para instrumentos de ciência espacial. Entre estes, figura um modelo de demonstração de um startracker miniaturizado desenvolvido para a missão BepiColombo da ESA a Mercúrio e a futura sonda Solar Orbiter,” afirmou Michel Courtois, Director de Tecnologia e gestão da Qualidade na ESA, em Plesetsk.
Outras tecnologias a demonstrar incluem um sensor solar digital, uma câmara de grande angular miniaturizada, sensores de fibra, um magnetómetro de alta precisão, um receptor espacial GPS de dupla frequência, um propulsor electroquímico a resistência alimentado a xénon, um gerador de gás frio e muito mais.
Para além disso, o Proba 2 transporta dois instrumentos de física solar belgas e dois instrumentos experimentais de física de plasma da República Checa.
Existem mais duas missões Proba que já se encontram na fase de concepção e desenvolvimento. O Proba V transportará um sensor multiespectral de vegetação para monitorizar a cobertura de vegetação, e o Proba 3 deverá demonstrar o voo em formação.