O fabricante japonês Yamaha é uma referência mundial nos setores dos motores fora de borda e motos de água. Nesta nossa ronda pelos principais players nacionais, conversámos com Pedro Nunes o responsável pelo departamento marítimo da Yamaha Portugal.
Texto e fotografia: Vasco de Melo Gonçalves
Náutica Press (NP) Gostaria que me fizesse um balanço geral do ano de 2012 para a Yamaha.
Pedro Nunes (PN) O ano de 2012 foi planeado no último trimestre de 2011. Os mercados, em geral, têm sofrido alterações constantes e rápidas e o planeamento que foi feito para 2012 teve que ser revisto em Abril / Maio (à imagem do resto do Grupo). No primeiro orçamento fazíamos uma previsão, para o mercado português de motores fora de borda, de um decréscimo em relação a 2011 de 24 a 25% nas vendas. Segundo os dados da ICOMIA, referentes ao período Janeiro a Setembro, nos motores fora de borda o mercado nacional caiu 25%. Isto quer dizer que o mercado se vai situar abaixo das 1000 unidades! Em termos comparativos no ano de 2007 o mercado era de 3 600 unidades
Em termos de posicionamento da Yamaha no mercado, a marca está com um acréscimo na quota de mercado que se situa nos 44%. As nossas vendas estão, no mínimo, a cumprir o orçamento revisto mas, existe a possibilidade de conseguirmos atingir o orçamento original. Está a correr um pouco melhor do que tinha sido estimado.
Não nos devemos esquecer que estamos a falar num mercado que desceu bastante e logo as nossas vendas também desceram bastante. Preferia não estar a falar de aumento da quota de mercado mas que tinha vendido mil e tal motores!
NP Como num mercado a baixar a Yamaha consegue conquistar quota?
PN Existem alguns fatores para explicar a situação. Primeiro, a preferência que a nossa marca tem nos utilizadores profissionais onde fatores como a resistência, a fiabilidade, o serviço de assistência pós venda feita pelos concessionários, o serviço de peças sobressalentes são relevantes. Nós temos uma boa quota de preferência na pesca profissional, uma situação que já se verifica há muitos anos e que tem sido reforçada. Mas também noutros segmentos profissionais nomeadamente, marítimo-turísticas, entidades estatais como a Marinha e Socorros a Náufragos. Esta preferência dá-nos uma sustentabilidade de negócio apreciável.
Paralelamente mantemos boas parcerias na área da Náutica de Recreio. Sem querer despromover nenhuma empresa, destaco a Nautiser Centro Náutico que é importadora da marca de barcos Jeanneau e com a qual a Yamaha tem uma parceria alargada ao nível da Europa.
Temos também boas parcerias com fabricantes nacionais de barcos. Por exemplo a Obe & Carmen que tem conseguido exportar fruto do trabalho de desenvolvimento dos modelos e da conjuntura económica e que se traduz também em mais vendas de motores Yamaha.
Esta conjugação de fatores provocou melhores resultados do que o esperado mas, mesmo assim, o recreio quebrou mais do que os outros segmentos de mercado.
NP Como está o mercado das motos de água?
PN O mercado das motos de água está a tornar-se num nicho muito pequeno de vendas. Mas temos que separar entre vendas e utilizadores. Por exemplo, o campeonato nacional tem mais jovens pilotos do que há uns anos atrás e isto com as dificuldades económicas conhecidas. As comunidades continuam a existir e a utilizar as motos de água em concentrações e passeios.
A venda de motos novas tem um decréscimo de vendas brutal sendo que o mercado desce 50%. A nossa marca desce um pouco menos mas não anda muito longe sendo 72% a nossa quota de marcado. Ficamos contentes mas são poucas unidades vendidas em Portugal, na ordem das 50. Há 5 anos o mercado era de 300 a 400!
As vendas que se vão fazendo têm um caráter de utilização cada vez mais profissional: o apoio a atividades de surf, o aluguer de praia ou para passeios mais longos (problemas legislativos desfavorecem-nos em relação a outros países europeus).
NP Como pensa a Yamaha que vai evoluir o setor da náutica de recreio?
PN Hoje em dia existe uma enorme incerteza e a bola de cristal não funciona. As incertezas que nós temos são mais de ordem quantitativa. Ou seja, presumimos que 2013 ainda vai ser um ano pior, estou a falar de Portugal mas, na Europa as vendas também vão baixar.
É nossa estimativa que em 2013 se atinja o nível mais baixo e que em 2014 possamos começar a recuperar. Ao nível de náutica e de quantidade de motores e embarcações vendidos é uma enorme incerteza qual a percentagem que vamos aumentar em 2014. Claro está que temos projeções feitas, se calhar vamos ter em 2014 uma recuperação para chegarmos a níveis de 2012! Acredito mais numa recuperação paulatina do que num boom nos próximos 2 a 3 anos. O cliente vai ter muito presente os perigos e as ameaças que a crise provocou e, por isso, vai estar receoso.
Apesar da crise existe a possibilidade de crescimento através do turismo e do lazer ligado à náutica não só para consumo interno como para exportação. Temos condições naturais para atrair turismo jovem e sénior da Europa e do resto do Mundo. Todos os países que têm uma forte vocação para o turismo utilizam os produtos náuticos para potenciar as belezas naturais. Em Portugal isto já acontece e, mesmo em época de crise, houve empresas que compraram embarcações para efetuarem passeios e observação de fauna. Este tipo de atividade ainda está pouco explorado devido às restrições legislativas.
Nós na Yamaha vemos com cuidado e atenção e com um grau de improbabilidade grande como será o crescimento futuro em termos quantitativos. Como será o crescimento qualitativo já será mais fácil pois, tem que haver uma estratégia e, nós temo-la. A estratégia passa pelo seguinte pontos:
– Temos noção que temos que regressar ao essencial;
– O cliente / público está mais atento às marcas e aquilo que as marcas fazem;
– O cliente dá valor às empresas que são sólidas porque estão a criar postos de trabalho mas, não gostam da ganância por lucros excessivos;
– Nós Yamaha temos uma herança muito importante de apoio ao cliente e de apoio aos profissionais que usam os nossos produtos. Temos a responsabilidade social de, mantendo a estrutura mínima para que a empresa continue a evoluir, apoiar os clientes através de campanhas válidas de desconto e de parcerias. Isto nós temos feito e vamos continuar a fazer e incrementar. Não algo que surgiu agora e por isso, é para nós muito mais fácil continuarmos e recebermos esse feed back dos clientes.
Parte da nossa estratégia para 2013 será voltar ao essencial e ter os pés bem assentes na terra, perceber quais são os mercados que precisam dos nossos produtos e dos nossos serviços e ter ações concretas de apoio a esses mercados sendo que o negócio tem de ser bom para ambas as partes.
NP Lançamentos para 2013?
PN A Yamaha vai lançar novos produtos durante o salão de Paris nomeadamente, um motor fora de borda totalmente novo. Esta nova unidade segue a lógica dos últimos lançamentos da Yamaha que se caracterizam por serem modelos económicos ao nível do consumo, tecnologicamente evoluídos e fabricados recorrendo a materiais resistentes e leves. Dia 8 de Dezembro ficaremos a saber de que motor estou a falar.