A ouvir o passado e a falar para o futuro

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Trabalho de equipa dos aquanautas da missão Neemo | Credits: NASA/ESA/Hervé Stevenin

O astronauta da ESA Tim Peake passou recentemente 12 dias debaixo de água com três outros aquanautas para tentar descobrir como é que os astronautas poderão explorar os asteroides. Nos bastidores, uma grande equipa de apoio esteve a aprender através da observação desta experiência.

A equipa não mediu esforços para tornar a experiência o mais realista possível. Esta missão Neemo simulou a visita a um asteroide a 15 milhões de quilómetros da Terra, quase 39 vezes mais longe do que a Lua.
A esta distância, uma mensagem da Terra leva cerca de 50 segundos a chegar à tripulação.
Mesmo que um astronauta responda imediatamente a uma mensagem do posto de controlo terrestre, os operadores na Terra ainda terão que esperar pelo menos um minuto e 40 segundos para ouvir a resposta. Quaisquer assuntos urgentes ou interrupções são impossíveis.
Neemo foi a primeira operação complexa na qual astronautas e equipa de controlo consideraram os atrasos temporais nas comunicações e por isso tiveram de aprender como é que estes intervalos temporais afetam as comunicações.
Hervé Stévenin, da ESA, tem anos de experiência a comunicar para a tripulação da Estação Espacial Internacional e foi convidado para a missão Neemo: “Na Estação, quando falamos com os astronautas a resposta é instantânea.
“Na Neemo, tivemos que repensar completamente as comunicações – estávamos a ouvir o passado e a falar ao futuro, tudo ao mesmo tempo.”

Hervé Stevenin da ESA na sala de controlo Aquarius | Credits: ESA/NASA

Conversas através do tempo debaixo de água
Os controladores da missão rapidamente encontraram formas de trabalhar com o atraso das comunicações. Primeiro, usaram cronómetros para os ajudar a perceber em que momentos deveriam esperar receber uma resposta dos astronautas subaquáticos.
A seguir tornou-se óbvio que algumas mensagens de voz deveriam ser anunciadas. Hervé explica: “Enviámos mensagens importantes anunciando o destinatário e o assunto da mensagem.
“Por exemplo, ‘Aquarius, MCC [Centro de Controle da Missão], Espaço para Terra Um, mensagem para Tim em 10 segundos.”
A pausa dava tempo aos aquanautas para pararem o que estavam a fazer e prestarem atenção. Isto evitou mensagens de repetição que poderiam atrasar o trabalho durante três minutos ou mais.
Finalmente, um novo sistema de comunicação foi testado. Muitas mensagens não urgentes foram enviadas através de um programa de chat, o que permitiu várias conversas ao mesmo tempo, semelhantes aos programas de chat da Internet. Os astronautas podiam ler mensagens e responder no seu próprio tempo.

A base Neemo | Credits: ESA–H. Stevenin

Chat de texto: o melhor para missões em asteroides
Hervé acrescenta: “Nós descobrimos que o chat de texto é o sistema de comunicação mais adequado para as missões em asteroides, completado com mensagens de voz para manter o lado humano.
“Se uma mensagem de voz for complexa, enviar também a mesma mensagem por texto ajuda muito.”
Esta missão Neemo foi uma das simulações subaquáticas mais complexas alguma vez realizadas. Mais de 80 engenheiros, mergulhadores e outros técnicos trabalharam 14 horas por dia para apoiar os aquanautas da unidade móvel de controlo da NASA.
Além das tarefas de comunicação, Hervé tem também apoiado a missão Neemo como mergulhador: “Ser um mergulhador Neemo ajuda a perceber os constrangimentos e os desafios do meio ambiente em que os aquanautas trabalham.”

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