Utilizando o Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA, juntamente com outros telescópios no solo e no espaço, os astrónomos descobriram um novo tipo de estrela exótica binária: no sistema AR Scorpii, uma estrela anã branca que gira rapidamente está a potencializar eletrões até quase à velocidade da luz. Estas partículas de alta energia libertam explosões de radiação que ‘chicoteiam’ a companheira estrela anã vermelha, fazendo com que todo o sistema pulse dramaticamente a cada 1.97 minutos com radiação variando desde ultravioleta a rádio.
Em Maio de 2015,um grupo de astrónomos amador da Alemanha, Bélgica e Reino Unido depararam-se com um sistema de estrelas exibindo um comportamento diferente de qualquer coisa que alguma vez tinham encontrado antes. Observações de acompanhamento liderados pela Universidade de Warwick e utilizando vários telescópios quer em terra quer no espaço, incluindo o Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA, revelaram agora a verdadeira natureza deste sistema previamente identificado erroneamente.
O Sistema estrelar AR Scorpii ou AR Sco abreviado, encontra-se na constelação de Escorpião, a 380 anos-luz da Terra. É composto por uma anã branca que gira rapidamente [2], do mesmo tamanho da Terra mas contendo 200 000 vezes mais massa e uma companheira anã vermelha com um terço da massa do Sol. Elas orbitam à volta umada outra a cada 3.6 horas numa dança cósmica tão regular como um relógio.
Numa abordagem única, este Sistema estrelar binário apresenta um comportamento brutal. Altamente magnético e girando rapidamente, a anã branca do AR Sco acelera eletrões até quase à velocidade da luz. À medida que estas partículas de alta energia chicoteiam através do espaço, elas libertam radiação de maneira semelhante a um farol que fustiga a face da estrela anã vermelha, fazendo com que todo o sistema se ilumine e desvaneça a cada 1.97 minutos. Estes pulsos poderosos incluem radiação a frequências de rádio, as quais nunca antes tinham sido detetadas a partir de um sistema de estrelas anãs brancas.
O investigador principal Tom Marsh do Grupo de Astrofísica da Universidade de Warwick comentou: “o AR Scorpii foi descoberto há mais de 40 anos atrás, mas a sua verdadeira natureza não era suspeita até que começamos a observá-lo em Junho de 2015. Percebemos então que estávamos na presença de algo extraordinário à medida que avançávamos com as nossas observações.”
As propriedades observadas do AR Sco são únicas. São também misteriosas. A radiação através de uma ampla gama de frequências é indicativa da emissão de eletrões acelerados em campos magnéticos, a qual pode ser explicada pela anã branca giratória do AR Sco. A fonte dos próprios eletrões, contudo, é um grande mistério – não é claro se ela está associada com a anã branca ou a sua companheira vermelha.
O Sistema AR Sco foi observado pela primeira vez no início dos anos 70 e as flutuações regulares no brilho a cada 3.6 horas levou a que fosse incorretamente classificado como uma estrela variável solitária. A verdadeira fonte da variação luminosa do AR Scorpii foi revelada graças aos esforços combinados de astrónomos profissionais e amadores. Um comportamento pulsante semelhante foi observado antes mas a partir de estrelas neutrões – alguns dos objetos celestiais mais densos conhecidos no Universo – em vez de anãs brancas.
Boris Gänsicke, co-autor do novo estudo, também da Universidade de Warwick, conclui: “Nós já conhecemos estrelas neutrões pulsantes há quase cinquenta anos, e algumas das teorias previam que as anãs brancas poderiam mostrar um comportamento semelhante. É muito emocionante que tenhamos descoberto tal sistema, e isto é um exemplo fantástico do trabalho conjunto de astrónomos amadores e académicos.” Fonte: ESA